O número de palavras ou signos de uma
determinada língua é sempre menor do que o número de coisas que existem, pois
estas são infinitas, porém finitas são as palavras.
É por isso que algumas palavras têm
mais de um sentido, exatamente para , sendo apenas uma, expressar no entanto mais
de uma coisa. Por exemplo, a palavra “cadeira” pode expressar o “nome de uma
disciplina escolar”, “uma parte do corpo”
ou “um objeto para sentar”. A mesma
palavra ou signo pode expressar três sentidos distintos. É o sentido que
potencializa a palavra, dotando-a da potência de expressar mais do que o pode
dizer a mera palavra.
As palavras existem sempre em menor
número do que as coisas, porém o sentido nunca é totalmente numérico ou
quantitativo. Tal como as coisas, o sentido também é infinito, ele não pertence
a nenhuma língua específica. As palavras podem faltar, porém nunca falta o
sentido.
As palavras possuem um limite: as
cerca um vazio, como incapacidade de representarem o infinito. O mesmo não
acontece com o sentido. Por ser incorporal, nunca nada pode limitar o sentido,
tampouco a ausência de sentido o pode,
pois uma ausência nada é: “ausência de sentido” também tem um sentido!
O que são as ideias? Elas nunca são
apenas palavras de uma língua, mesmo se tratando da língua grega ou a alemã, pois
não há privilégio de determinada língua histórica em dizer as ideias; tampouco as ideias são
cópias das coisas. As ideias são o próprio sentido, dando à linguagem a potência
de não faltarem ao infinito, mesmo que para dizê-lo em poema: talvez apenas
assim , poeticamente, o infinito possa ser dito.
( comentário ao texto “Raymond Roussel”, de
Gilles Deleuze)
A ciência confunde o desconhecido com
o misterioso. O desconhecido é aquilo que um dia poderá ser conhecido,
faltando-nos ainda os meios, como um planeta que já existe no universo, mas
que nossos telescópios ainda não acharam.
Esta é a “fé” ou “credo” da ciência: tornar tudo conhecido, para assim dominar
e manipular.
O misterioso
não é o mesmo que o desconhecido. O misterioso nunca será conhecido. Do
misterioso só podemos nos aproximar, e
para isso é preciso inventar os meios. Do misterioso só podemos nos aproximar,
saindo de todo conhecido: para a este retornar, já não mais o mesmo.
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