quarta-feira, 15 de novembro de 2017

o sentido...

O número de palavras ou signos de uma determinada língua é sempre menor do que o número de coisas que existem, pois estas são infinitas, porém finitas são as palavras.
É por isso que algumas palavras têm mais de um sentido, exatamente para , sendo apenas uma, expressar no entanto mais de uma coisa. Por exemplo, a palavra “cadeira” pode expressar o “nome de uma disciplina escolar”, “uma  parte do corpo” ou  “um objeto para sentar”. A mesma palavra ou signo pode expressar três sentidos distintos. É o sentido que potencializa a palavra, dotando-a da potência de expressar mais do que o pode dizer a mera palavra.
As palavras existem sempre em menor número do que as coisas, porém o sentido nunca é totalmente numérico ou quantitativo. Tal como as coisas, o sentido também é infinito, ele não pertence a nenhuma língua específica. As palavras podem faltar, porém nunca falta o sentido.
As palavras possuem um limite: as cerca um vazio, como incapacidade de representarem o infinito. O mesmo não acontece com o sentido. Por ser incorporal, nunca nada pode limitar o sentido, tampouco a ausência  de sentido o pode, pois uma ausência nada é: “ausência de sentido” também tem um sentido!
O que são as ideias? Elas nunca são apenas palavras de uma língua, mesmo se tratando da língua grega ou a alemã, pois não há privilégio de determinada língua histórica em  dizer as ideias; tampouco as ideias são cópias das coisas. As ideias são o próprio sentido, dando à linguagem a potência de não faltarem ao infinito, mesmo que para dizê-lo em poema: talvez apenas assim , poeticamente, o infinito possa ser dito.
( comentário ao texto “Raymond Roussel”, de Gilles Deleuze)






A ciência confunde o desconhecido com o misterioso. O desconhecido é aquilo que um dia poderá ser conhecido, faltando-nos ainda os meios, como um planeta que já existe no universo, mas que  nossos telescópios ainda não acharam. Esta é a “fé” ou “credo” da ciência: tornar tudo conhecido, para assim dominar e manipular.

 O misterioso  não é o mesmo que o desconhecido. O misterioso nunca será conhecido. Do misterioso só  podemos nos aproximar, e para isso é preciso inventar os meios.  Do misterioso só podemos nos aproximar, saindo de todo conhecido: para a este retornar, já não mais o mesmo.

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