Na mitologia, Procusto era um
personagem de índole questionável que oferecia uma “cama” fabricada por ele às
pessoas que passavam cansadas por uma estrada. Quando as pessoas se deitavam na
tal cama, porém, acontecia algo estranho: ninguém cabia direito nela. Quando a
pessoa era maior do que a cama , Procusto pegava um machado e decepava a cabeça
e os pés excedidos. Quando, ao contrário, a pessoa era menor , Procusto
amarrava as pernas e os braços dela com correntes , esticando brutalmente até
desmembrá-los... Ninguém sobrevivia àquela cama transformada em túmulo:
querendo que cada um se amoldasse à força, Procusto acabava matando todo mundo.
Quando as pessoas reclamavam, Procusto pegava uma régua e media com rigidez
militar a cama, e dizia: “A cama é perfeita, normal, exata: cada lado é
idêntico ao outro . A régua não mente! O defeito está em vocês : diferentes e
heterogêneos. Amoldem-se , mesmo que se violentando, e caberão na minha
Verdade!” A cama de Procusto pode receber vários outros nomes: “Minha Opinião”,
“Meu Dogma”, “Meu Credo” ...O que não couber em tais “fôrmas”, Procusto
vingativamente corta, nega, mata – física ou simbolicamente . Procusto odeia
tudo que “não se pode passar régua”, diria Manoel de Barros. O mais triste
nestes nossos dias é que muitos, não se sabe se por medo, resignação ou mero
espírito de rebanho mesmo , voluntariamente se deitam nessa cama que os
violenta e apequena . E assim perdem a cabeça, tornam-se acéfalos: nada mais
veem ou pensam; ou então perdem as pernas , já não podendo ficar de pé, apenas
prostrados , de joelhos.Mas qual o tamanho exato da cama? Quem cabe nela? Somente cabem nela aqueles
cujo tamanho é o da vil pequeneza.
"Quando a forma predomina,
desaparece o sentimento."(Balzac)