sábado, 25 de novembro de 2017

as ideias-carbono

a pedra tem a calma de não ter futuro.
Clarice Lispector

Uma das principais diferenças entre a matéria viva e a não viva pode ser compreendida pelo átomo de carbono. O átomo de carbono é uma singular  expressão da matéria viva. O carbono, como todo elemento químico, foi gerado na usina das estrelas. 
A matéria não viva tem por característica a presença de moléculas que reproduzem um modelo quase estático, dado que entram na composição de tais moléculas poucos átomos. A matéria não viva repete uma fórmula com pouca variação criativa. A matéria não viva se repete, sempre a mesma, por isso ela não tem memória ,  para assim se diferenciar do que fora; ela também carece de   desejo, e  por isso não se (re)inventa.
O carbono, ao contrário, é um dos átomos mais singulares e únicos: ele é capaz de compor-se com vários átomos diferentes, e assim produzir , agenciado com diferenças, moléculas sempre diferentes. Tais moléculas se tornam o meio para a produção de outras moléculas diferentes.  O carbono parece que existe para ser o agente de uma rede cada vez mais heterogênea e complexa. Embora singular, ele tem a potência do múltiplo.O próximo desafio do carbono, pensam alguns, é se agenciar com o silício...
O carbono atrai os átomos diferentes por meio de acontecimentos elétricos. Não é a gravidade a força que o move, mas a eletricidade enquanto variação intensiva. “In-tensio”: “interior à tensão ou vibração”. Intensidade é a qualidade do que é intenso. Ser intenso não é ser agitado. Ser intenso é existir como vibração, como a corda do arco que lança longe as flechas. Uma marionete pode ser muito agitada, porém nada tem de intensa.

As ideias são acontecimentos parecidos. Há ideias que são como os átomos da matéria não viva: elas querem apenas se propagar como palavra de ordem homogênea, delas nascem apenas moléculas do mesmo, do igual; e o pior igual é o clichê do diferente.  
Mas há ideias-carbono...Tais ideias não existem para serem decoradas ou repetidas materialmente, elas existem como agentes de um agenciamento, criando múltiplos sentidos para os acontecimentos que ela conecta. São ideias intensas, são vibrações de uma singularidade conectada a uma rede, tal como a corda do instrumento que vibra, conectada à polifonia que ela mesma engendra, como  parte ativa.


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