a pedra tem a calma de não ter futuro.
Clarice Lispector
Uma das principais diferenças entre a matéria viva e a não viva pode ser compreendida pelo átomo de carbono. O átomo de carbono é uma singular expressão da matéria viva. O carbono, como todo elemento químico, foi gerado na usina das estrelas.
A matéria não viva tem
por característica a presença de moléculas que reproduzem um modelo quase
estático, dado que entram na composição de tais moléculas poucos átomos. A
matéria não viva repete uma fórmula com pouca variação criativa. A matéria não
viva se repete, sempre a mesma, por isso ela não tem memória , para assim se diferenciar do que fora; ela
também carece de desejo, e por isso não se (re)inventa.
O carbono, ao contrário,
é um dos átomos mais singulares e únicos: ele é capaz de compor-se com vários
átomos diferentes, e assim produzir , agenciado com diferenças, moléculas
sempre diferentes. Tais moléculas se tornam o meio para a produção de outras
moléculas diferentes. O carbono parece
que existe para ser o agente de uma rede cada vez mais heterogênea e complexa.
Embora singular, ele tem a potência do múltiplo.O próximo desafio do carbono, pensam alguns, é se agenciar com o silício...
O carbono atrai os átomos
diferentes por meio de acontecimentos elétricos. Não é a gravidade a força que
o move, mas a eletricidade enquanto variação intensiva. “In-tensio”: “interior
à tensão ou vibração”. Intensidade é a qualidade do que é intenso. Ser intenso
não é ser agitado. Ser intenso é existir como vibração, como a corda do arco que
lança longe as flechas. Uma marionete pode ser muito agitada, porém nada tem de
intensa.
As ideias são acontecimentos parecidos.
Há ideias que são como os átomos da matéria não viva: elas querem apenas se
propagar como palavra de ordem homogênea, delas nascem apenas moléculas do
mesmo, do igual; e o pior igual é o clichê do diferente.
Mas há ideias-carbono...Tais ideias não existem
para serem decoradas ou repetidas materialmente, elas existem como agentes de
um agenciamento, criando múltiplos sentidos para os acontecimentos que ela
conecta. São ideias intensas, são vibrações de uma singularidade conectada a
uma rede, tal como a corda do instrumento que vibra, conectada à polifonia que
ela mesma engendra, como parte ativa.
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