Uma das palavras mais bonitas da
filosofia grega é “eudaimonia”. No
coração dessa palavra está o nome “Daimon”, pois “eudaimonia” é : “estar na
companhia de um bom Daimon”.
Em português, “eudaimonia” significa “felicidade”. Para os gregos, felicidade não
é andar sozinho, mesmo que seja numa carruagem de ouro; felicidade é andar na
companhia de um “bom Daimon”, agenciado.
Na mitologia, o Daimon não mora no
inacessível e aristocrático Olimpo, o Daimon mora onde houver a necessidade de
uma travessia, pois ele é a divindade dos caminhos, sobretudo dos caminhos que urgem ser criados quando
precisamos atravessar desertos ,
escapar de labirintos ou transpassar
rochedos.
Para os gregos, a felicidade não é propriedade
egoica de um indivíduo, a felicidade é
agenciamento coletivo: impossível o indivíduo ser feliz se a pólis está
triste, tampouco pode o indivíduo ter saúde com a pólis doente.
Aristóteles dizia que a felicidade é o
que a ética visa alcançar , já Espinosa
ensina que felicidade não é um prêmio por sermos éticos, a felicidade é a vida
ética mesma. A felicidade não está no ter, e sim no ser.
Mas o Daimon só nos faz companhia se
aprendermos a ser companhia. Nietzsche diz que certa vez um Daimon soprou esta
lição em seu ouvido: “Não aprecio seguir
ou ser seguido: para me acompanhar aonde
vou, é preciso aprender a amar andar ao lado”.
“Companhia” vem de “com-pane”. E “pane”
é, em português, “pão”. Assim, fazer companhia é saber “dividir o pão”. Companheiros: “aqueles
que dividem o pão”.
Há o pão que alimenta o corpo, como
aquele que faltou ao povo e trouxe o sofrimento
da fome. A elitista Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão? Que
comam brioches!”
Quando um povo não aceita ser rebanho de Marias Antonietas de ontem e
de hoje, nasce nele a fome por outro pão: o pão da dignidade e
da justiça, pão que tem o fermento da
arte, da educação e da poesia, pão que
alimenta a luta contra as tiranias.
( este livro é apenas uma sugestão )