( trechos dos autores)
“Manoel
tinha um poder de atravessar o erudito e o popular, ir de Heidegger e emendar
com as formas dos Bugres. O poeta aponta o logos frágil do homem e assim sua
salvação é a criação, como interconexão com o existir, sem comer apenas o
utilitário cariado pelo consumo.” Paulo Vasconcelos (Escritor, autor da orelha do livro)
“Nem reis nem regências. É que a
potência expressiva da linguagem poética (luxúria) não é nunca uma fuga ativa
dos padrões linguísticos (regências) sem ser, ao mesmo tempo, uma fuga de
modelos de compreensão, morais ou políticos que se impõem a nós (reis).
Trata-se, portanto, de olhar para as coisas em sua inocência, como puramente
terrestres, ainda sem nome”. Paulo Oneto (Filósofo/Ufrj)
“A
obra poética se faz para que o poético seja capaz de dizer-se. Dizer-se é
obrar. Poética é com-posição de espaço-temporalidades. A poética não se pode
compreender desde uma unidimensionalização de um tempo crônico, desde um tempo
medido apenas. A obra poética, pelo seu próprio, desde o seu próprio, age como
cronos, kairós e aión a um só tempo para além da medida. “ Antônio Jardim (Músico e Filósofo/ Uerj-Ufrj)
“No
caderno do andarilho (fiz uma bruta força para não lembrar de Nietzsche) achei
algumas regras. Sosseguem, na inutilidade não nasce nem ajuda nem autoajuda.
São regras de pisar ‘cheio de vogais pelas pernas vai o caranguejo soletrando-se’;
de misturar ‘os girassóis tem dom de aurora’ ou ‘um dia um girassol encontrou
com Deus. Foi em Van Gogh’ ou; mais ligada ao aprender: ‘grilo faz a noite
menor para nela caber’. Em tudo tem regras de poetar.” Ieda Tucherman (Profª e Pesquisadora da Eco/Ufrj)
“Escolhi
como vereda para este artigo uma afirmação de Manoel de Barros , ele dizia não
pertencer à geração de 45, sua poesia não era de reconstrução, não queria
voltar aos sonetos, retesar versos frouxos; desejava palavras ‘arrombadas de
escombros’. Por isso, cabia falar dos morcegos que voam dentro das ruínas, do
lixo sobrado e dos rios podres que comem dentro das casas e dentro de nós; e
falar dos restos humanos fazendo discursos nas ruas. Nesse sentido, seus
personagens simples são os ‘passarinhos de uma demolição’”. Mário Bruno ( Poeta e Filósofo/ Uff-Uerj)
“Nessa
manhã me perdi em seu quintal. Tinha saído antes do sol atrás de um filme que
nunca soube qual, ou sim, mas não onde estaria. Pouco sabia daquelas paisagens
e suas figuras. Dispensei pensar depois aprendi com ele a não tentar domar o
tempo, que naturalmente tudo encontra lugar no texto (mesmo que seja o do
corte, supressão do traço).” Gabraz Sanna (cineasta)
“Manoel
de Barros irá adotar um processo similar ao de Miró. Assim como o pintor
catalão, irá valorizar o que é desprezado, o entulho, o lixo no plano do
conteúdo e no da forma irá desconstruir a sintaxe da frase, aprenderá a errar a
língua, tirará as palavras de seu contexto habitual, produzindo novos
encantamentos poéticos.” Luiz Henrique Barbosa (Professor e Crítico Literário)