(trecho do livro)
“Agenciamento”
tem por raiz, raiz rizomática, o termo “agente”. Um agente é aquele que
desencadeia, que promove, que suscita. Um agente não existe fora de um agenciamento.
O agenciamento não é tão somente os
polos de uma relação: ele implica os polos e mais o meio, o encontro, o
“entre”. O agente de um agenciamento nunca é um sujeito que se opõe a um
objeto, tampouco um objeto que existe em si, “objetivamente”, que só poderia
ser descrito por um sujeito sem corpo. Tudo pode ser agente para a produção de um
agenciamento, inclusive um objeto, desde que nele achemos elementos não
totalmente objetificados, “pré-coisas”.
O poeta é o agente que me inventa filósofo,
nesse agenciamento que rascunho. Ele me inventa enquanto escrevo sobre ele, na
pretensão de achar filosofia no poeta e, quem sabe, poesia na filosofia,
enquanto ele “me escreve”. Manoel não professa credos ou doutrinas, ele nos
ensina uma Didática da invenção[1].
Manoel é um menino levado da breca, e nos convida a ser também. Ele é um menino
não em idade, mas em invenção: como Exercícios de ser criança, um devir-criança como incorporação. E é
assim que esboçamos, com Manoel e Deleuze, uma desfilosofia: no poeta que me inventa filósofo, poeticamente; no
filósofo que busca ler o poeta, filosoficamente.
[1] SOUZA, E.L.L. de. “Manoel de
Barros: uma didática da invenção”. In: Revista
Brasileiros. São Paulo,nº 89, DEZ/2014, pp. 108-110.