Quem anda no trilho é
trem de ferro.
Sou água que corre entre
as pedras.
Liberdade caça jeito.
Manoel de Barros
No documentário A mensagem da água , o cineasta e
cientista Masaru Emoto mostra o seguinte
acontecimento: ele desenvolveu uma lente de fotografar tão potente que ela é
capaz de registrar imagens de moléculas de água.Por que a água? Pois essa matéria é a
mais receptiva que existe: tudo ela recebe, tudo ela aceita. Masaru selecionou então voluntários, todos muito diferentes
entre si, fisicamente e em temperamento. Os voluntários foram
selecionados para o seguinte experimento: eles deveriam, primeiramente, pensar
em coisas negativas, como ódio e tristeza por exemplo, e projetar tais ideias/afetos sobre um recipiente contendo água . Após isso, eles deveriam pensar em pensamentos/afetos
positivos, como o amor e a alegria, e projetá-los, apenas com o pensamento,
para a água. Enquanto ocorria isso, o artista/cientista tirava fotografias da
água.
Após revelar as fotos,
ele descobriu que as moléculas de água ficavam deformadas e menos brilhantes
quando sobre elas eram projetados pensamentos negativos. Ao contrário, as
moléculas ficavam mais brilhantes , mais vivas, quando sobre elas eram projetados
pensamentos positivos. A água recebia, aceitava, indistintamente, a ação de
tais forças sobre ela, embora apenas os pensamentos positivos aumentavam e
potencializavam sua existência: a alegria pensada também passava para ela, para
a sua existência, pois o brilho é como a molécula traduz o que para nós é a alegria.Não
só o pensamento é capaz de agir, embora não o faça com braços ou pernas: a própria água , tida por matéria sem alma, também é capaz de sentir.Embora não possua pele, carne ou nervos, a água expressa o que sente diminuindo ou aumentando seu brilho.
(molécula de água sob o efeito de pensamentos afirmativos)
As ideias têm realidade,
elas têm força.Os pensamentos negativos são forças também, mas são forças que não
se compõem com aquilo sobre o qual elas agem: elas são como o martelo que destrói
o bloco de mármore, ao invés de nele moldar uma arte.O pensamento negativo não
é apenas o martelo, ele também é a mão e o braço que o seguram, bem como o
esforço , o suor, o tempo e a intenção de destruir. O negativo é o positivo que
não se compreende como força.Já as forças positivas, forças de
afirmação,continuam ainda existindo nos seres que elas afetam e contagiam.Na
molécula, a alegria que sentimos subjetivamente se metamorfoseia em brilho objetivo.Os
pensamentos afirmativos também são o martelo , a mão, o braço, o suor, a
intenção...e mais o amor, o desejo e a
obra através da qual o artista continua a existir. Conclusão do filme: se nosso
pensamento é capaz de agir sobre algo que nos é externo, aumentando ou
diminuindo sua existência, imaginemos o quanto nosso pensamento pode agir sobre
nós mesmos, aumentando ou diminuindo nossa existência,nós que somos mais de 60%
compostos de água.Assim como esta, nós recebemos o que nos damos.
O pensamento não é a
vontade, pois a vontade age escolhendo
entre alternativas que lhe são exteriores. Por exemplo, vejo um caminho que se
bifurca: escolho ir por um deles, e ao ir pelo caminho escolhido não vou por
aquele que não escolhi.Posso ter escolhido o caminho errado! Se acertei ou
errei na escolha somente depois
descobrirei. Se errei, isso pode
provocar arrependimento, ou seja, tristeza. O problema é que esses pensamentos
de arrependimento quase sempre acompanham o ato de escolher na hora mesmo da
decisão, enfraquecendo e enchendo de
hesitação e inconstância tudo o que fazemos, por temor de errarmos em nossas
escolhas.A imaginação do erro pode ter mais força que a expectativa do acerto.
O pensamento, ao
contrário, não é uma escolha: não posso escolher, pensando, não pensar. Ao pensamento só posso afirmar.O
pensamento que pensa o negativo se enfraquece na medida em que pensa: pois
antes de negar uma coisa externa, ele primeiro nega a si mesmo. E é por isso
que de tal pensamento nunca nasce nada, pois destruir não é fazer nascer.
É isso exatamente que
ensina Espinosa. Para ele, não nos tornamos livres pela vontade.A liberdade não
pré-existe, como um caminho, à nossa escolha.A vontade nada mais é, inclusive, do que um pensamento
indeciso, fraco, que não sabe o que quer.A força, ou potência, está no
pensamento. Não o pensamento abstrato, mas o pensamento que se compreende força,
ação, realidade. Visto dessa forma, é um pleonasmo ou redundância falar em “pensamento
positivo”, pois todo pensamento é positivo.Sabe disso mesmo a água, embora não o
saibam a maioria dos homens, mesmo os muito estudados.
A vontade vive indecisa
entre bifurcações e escolhas de qual caminho escolher, e antes da escolha ela
já sofre antecipadamente, ou se alegra imaginativamente.E o medo de escolher
errado já corrói a própria escolha, de tal modo que muitos escolhem o que imaginam ser um mal menor, supondo que no outro caminho está um mal maior; sem falar naqueles que , carentes até mesmo de vontade, escolhem escolher o que escolhe a vontade alheia, fugindo assim de pensar a própria vida.
O pensamento, ao contrário
, não é um caminho que existe antes de o escolhermos. Se o pensar dependesse de
uma escolha entre caminhos que se bifurcam, um dos caminhos seria o pensar, mas
não saberíamos qual deles o seria, ao passo que o outro seria nem sabemos bem o
quê, enquanto que aquele que deve escolher nem mesmo poderia pensar, já que o
pensar estaria no caminho que ele deveria acertar escolher, e escolher sem
pensar!
Como diz Manoel de
Barros:“O andarilho abastece de pernas as distâncias”. Ele não percorre as
distâncias de estradas já prontas, mas faz as distâncias que ele percorre
aumentarem em razão do seu pensar que anda, avança , inventa caminhos.Não é a
força de vontade que muda uma vida, o que muda uma vida é o pensar que afirma a
vida.Nós não pensamos primeiro para depois agirmos, pois pensar já é agir, um agir que nasce antes do agir de nossas pernas e braços, e que determina o que eles fazem.Sabe
disso primeiro aquilo que, em nós mesmos, sente esse pensar/agir atuando nele: sabe primeiro
nosso sangue, nossos nervos, nosso coração e os olhos com os quais olhamos o
mundo.
(o brilho singular da andarilha Jeanne Moreau)