quinta-feira, 2 de novembro de 2017

as rosas que nunca murcham



Segundo Heidegger, o mundo atual confunde o “diminuir a distância” com o “criar proximidade”. A técnica diminui as distâncias, sem dúvida. Contudo,  uma coisa é diminuir as distâncias entre seres no espaço, outra bem diferente é criar proximidade com o sentido. O telescópio diminuiu a distância entre a lua e meus olhos. Mas quando leio um poema sobre a lua, de que lua se trata? O poema não põe a lua mais perto espacialmente  de mim, porém  ele pode pô-la a tal ponto próxima de mim que a descubro dentro de mim, como o devir-lunar que sou.
Os cientistas olham as células com potentes microscópios e imaginam que isso os faz estarem próximos do que é a vida, o sentido da vida, porém eles olham a vida de fora. Quando Cartola nos diz que “as rosas não falam”, que rosas são essas? O que essas rosas têm que não têm as rosas que pomos em jarros? Um dia estas últimas murcham, porém nunca murcham as rosas das quais a canção de Cartola é uma aproximação, um chegar perto, sobretudo de nós mesmos: basta a gente cantar que elas desabrocham voz, sempre novas.





Nenhum comentário: