Segundo
Heidegger, o mundo atual confunde o “diminuir a distância” com o “criar
proximidade”. A técnica diminui as distâncias, sem dúvida. Contudo, uma coisa é diminuir as distâncias entre seres
no espaço, outra bem diferente é criar proximidade
com o sentido. O telescópio diminuiu a distância entre a lua e meus olhos. Mas
quando leio um poema sobre a lua, de que lua se trata? O poema não põe a lua
mais perto espacialmente de mim,
porém ele pode pô-la a tal ponto próxima
de mim que a descubro dentro de mim, como o devir-lunar
que sou.
Os
cientistas olham as células com potentes microscópios e imaginam que isso os
faz estarem próximos do que é a vida, o sentido da vida, porém eles olham a
vida de fora. Quando Cartola nos diz que “as rosas não falam”, que rosas são essas?
O que essas rosas têm que não têm as rosas que pomos em jarros? Um dia estas
últimas murcham, porém nunca murcham as rosas das quais a canção de Cartola é
uma aproximação, um chegar perto, sobretudo de nós mesmos: basta a gente cantar
que elas desabrocham voz, sempre novas.
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