Em toda passagem de ano comemoramos um ano novo. Um
ano velho vai, um ano novo vem. Mas o
ano novo não é um começo radical : ele é a continuidade de um mesmo tempo. É
por isso que o ano novo é contado e recebe um número : 2019. É um ano novo de um mesmo tempo que é
numerado, então, com um ano a mais. O ano novo é um novo ano de um mesmo tempo,
e não um tempo novo. 2019 pode ser ano novo, mas o tempo que ele anuncia é o de uma mentalidade retrógrada e
conservadora , nostálgica de um passado de trevas.
Entre os gregos o tempo era vivido de
outra maneira. O tempo não era concebido de forma linear. Os gregos viviam o
tempo como repetição cíclica. O tempo é uma repetição, e não uma progressão
numérica. Dois eventos determinam o ciclo do tempo: o nascimento e a morte, a
criação e a destruição. O tempo nasce, cresce e morre, como tudo o que é vivo.
Porém, o tempo renasce, vencendo sua própria morte. O tempo que nasce é um tempo novo que nada
tem a ver com o que morreu. O tempo novo também não é o desenvolvimento de um
tempo antigo. Por isso não se pode dizer que é o ano novo de um mesmo tempo,
pois é um tempo novo que nenhuma data ou número pode determinar. Ele é tempo
novo, renascido outro. É no tempo novo, e não no tempo morrido, que o tempo
mostra sua verdadeira face: deixar para trás tudo o que está morto.
Quantos tempos novos já existiram?
Impossível numerar... Infinitas vezes já houve um tempo novo. Apesar disso,
sempre haverá tempo novo, a despeito dos homens conservadores do antigo. É para
criar-se novo que o tempo se destrói como antigo. Repetindo-se, o
tempo sempre retorna, diferente. O tempo
não é eterno: eterna é a repetição através da qual o tempo retorna, novo.
“Só podemos destruir
sendo criadores."
(Nietzsche)