sábado, 5 de julho de 2025

Eles contra nós

 

Os jornais surgiram na Europa como espaços críticos e simbólicos da então emergente burguesi4  . Os jornais nasceram como voz de uma classe contra outra classe: como voz da burguesi4 contra a m0narquia.

Depois, com os movimentos operários, surgiram jornais de esquerda como voz dessa nova classe nascente. Até hoje na Europa, há jornais de esquerda que fazem contraponto aos jornais (neo)liberais hegemônicos que, tal como no passado, ainda defendem o interesse de uma determinada classe, ainda que tentem dissimular isso.

No Brasil nunca houve algo semelhante: aqui, a imprensa foi criação da monarquia, quase como uma porta-voz dela. Os primeiros jornalistas eram filhos de senhores de engenho. Nunca tivemos, a não ser isoladamente, uma imprensa que veiculasse  outra voz sem ser a voz da classe dominante. Hoje, os senhores de engenho são outros...

 Um empresário estadunidense ultrdireitist4 , ferrenho apoiador e financiador de Trump, recentemente disse com cinismo: “Marx estava certo, o motor da história é a luta de classes.  Só que agora somos nós, os ricos, que fomentamos a luta e avançamos contra nossos inimigos:  os pobres.”

Conforme alguns colegas já disseram, a imprensa corporativa distorce os fatos ao afirmar que o governo assumiu o lema “Nós contra eles”, quando na verdade é o inverso que acontece: “São eles contra nós”. Ao distorcer a realidade, a imprensa corporativa revela que ela sempre foi   a voz desse “eles”, e não do nós.

Quem são “eles”? “Eles” chagaram aqui nas caravelas; “eles” depois foram os donos dos navios negreiros; “eles” moravam nas casas-grandes; hoje, a caravela colonialista, o navio negreiro escravagista e a casa-grande excludente são o “eles” do mercado financeiro que fazem dos juros aviltantes a nova forma de açoite ( como na imagem pintada por Banksy que acompanha esta postagem).

“Nós” somos os trabalhadores, os estudantes, os professores, as mulheres, os indígenas, os artistas, as minorias, as crianças... E também  as florestas, os seres vivos,  os rios, o planeta, enfim.

Como ensinava Espinosa, o “eles” é um pequeno grupo que usa o poder (“potestas”)  para   se colocar à parte, como um “todo à parte”, porém sugando a vida de todos para assim manterem seus privilégios usurpad0res ; o “nós” é a multitudo e sua potência ( “potentia”) no exercício de uma democracia que não é representativa, mas direta.

Nem sempre a multitudo dá sinais de vida, às vezes parece que ela está desesperançada, cansada, quase morta... É a indignação que desperta a multitudo e agencia , como partes singulares dela, aqueles e aquelas que se unem e  agem ante as injustiças.