Os jornais
surgiram na Europa como espaços críticos e simbólicos da então emergente
burguesi4 . Os jornais nasceram como voz de uma classe contra outra
classe: como voz da burguesi4 contra a m0narquia.
Depois, com os
movimentos operários, surgiram jornais de esquerda como voz dessa nova classe
nascente. Até hoje na Europa, há jornais de esquerda que fazem contraponto aos
jornais (neo)liberais hegemônicos que, tal como no passado, ainda defendem o
interesse de uma determinada classe, ainda que tentem dissimular isso.
No Brasil nunca
houve algo semelhante: aqui, a imprensa foi criação da monarquia, quase como
uma porta-voz dela. Os primeiros jornalistas eram filhos de senhores de
engenho. Nunca tivemos, a não ser isoladamente, uma imprensa que veiculasse outra
voz sem ser a voz da classe dominante. Hoje, os senhores de engenho são
outros...
Um
empresário estadunidense ultrdireitist4 , ferrenho apoiador e financiador de
Trump, recentemente disse com cinismo: “Marx estava certo, o motor da história
é a luta de classes. Só que agora somos nós, os ricos, que
fomentamos a luta e avançamos contra nossos inimigos: os pobres.”
Conforme alguns
colegas já disseram, a imprensa corporativa distorce os fatos ao afirmar que o
governo assumiu o lema “Nós contra eles”, quando na verdade é o inverso que
acontece: “São eles contra nós”. Ao distorcer a realidade, a imprensa corporativa
revela que ela sempre foi a voz desse “eles”, e não do nós.
Quem são “eles”?
“Eles” chagaram aqui nas caravelas; “eles” depois foram os donos dos navios
negreiros; “eles” moravam nas casas-grandes; hoje, a caravela colonialista, o
navio negreiro escravagista e a casa-grande excludente são o “eles” do mercado financeiro
que fazem dos juros aviltantes a nova forma de açoite ( como na imagem pintada
por Banksy que acompanha esta postagem).
“Nós” somos os
trabalhadores, os estudantes, os professores, as mulheres, os indígenas, os
artistas, as minorias, as crianças... E também as florestas, os seres vivos, os rios, o planeta, enfim.
Como ensinava Espinosa,
o “eles” é um pequeno grupo que usa o poder (“potestas”) para se colocar à parte, como um “todo à parte”,
porém sugando a vida de todos para assim manterem seus privilégios usurpad0res ;
o “nós” é a multitudo e sua potência ( “potentia”) no exercício de uma democracia
que não é representativa, mas direta.
Nem sempre a multitudo
dá sinais de vida, às vezes parece que ela está desesperançada, cansada, quase
morta... É a indignação que desperta a multitudo e agencia , como partes
singulares dela, aqueles e aquelas que se unem e agem ante as injustiças.