Deixarei aqui um link para uma revista na qual acabou de sair um artigo que escrevi sobre o poeta Manoel de Barros. Fiquei feliz, pois gosto dessa revista, vale a pena conhecê-la: Revista Alegrar.
O nome e a linha
editorial da revista são inspirados em um afeto fundamental da Ética de Espinosa: a Alegria.
Em Espinosa, “alegria”
não é a mesma coisa que o sentimento que o senso comum chama por esse nome. A alegria espinosista é
uma potencialização da nossa capacidade de pensar, agir e sentir, pois essas
três atividades andam juntas.
A alegria é um
afeto acompanhado do prazer nascido em alguma parte (ou partes) do nosso corpo.
Ou seja, não apenas a alma sente alegria, o corpo também sente. Por exemplo,
quando ouvimos uma música que potencializa o sentir de nossa mente, é porque nosso
ouvido, ao ser tocado pelo som, sente prazer. O prazer é a alegria do corpo.
Quando é nosso
corpo inteiro que sente prazer, um prazer não egoico-hedonista, a alegria se
torna contentamento: não o contentamento em ter algo como proprietário-dono, mas contentamento em ser parte singular da Natureza.
A Natureza em
Espinosa é uma polifonia infinita: é música para ouvir com todo o corpo. Aqueles que a ouvem, como diz o poeta, de contentamento-beatitude
também dançam, sendo taxados de loucos pelos que não têm ouvidos para a escutar
.
Quando é uma
parte do nosso corpo que sente dor, em nossa mente haverá tristeza. E quando é
o corpo todo que dói, a mente é dominada pela melancolia. A melancolia nos
mostra que as dores do corpo nunca são apenas físicas...
Espinosa não
nega ou minimiza a dor, a tristeza e a melancolia. Mas é tarefa da filosofia,
uma tarefa ao mesmo tempo clínica, existencial e política, perseverar para
produzir o máximo possível de prazer, alegria e contentamento, com a máxima
potência que tivermos.
Não é o medo ou
o ódio à doença que nos protege dela, o que nos protege
verdadeiramente da doença é agir tendo como causa o amor à saúde.
A luz não brilha
como efeito da treva, mas por afirmação de si mesma: e quanto mais a luz brilha,
mais ela se torna causa da diminuição da treva.
As tir4nias de toda espécie fomentam e se aproveitam da dor, da tristeza e da melancolia. Mas o prazer , a alegria e o contentamento autênticos não nascem da derrota das tir4nias , pois prazer, alegria e contentamento autênticos não são um efeito . Ao contrário, o prazer, a alegria e o contentamento autênticos devem ser causas que nos auxiliem nas lutas contra as tir4nias.