Segundo a mitologia, assim foi criado
o homem: Prometeu começou a obra a partir
do barro, porém pediu ajuda
aos outros deuses. Hefesto, o deus
artesão-operário, deu a Prometeu , para este pôr nos homens, o dom de usar as mãos. Assim nasceu o “homo faber”:
“aquele que transforma a natureza com as mãos”. Mas isso não foi suficiente ,
pois as feras sobrepujavam em força e facilmente caçavam esses primeiros
homens. Prometeu pediu auxílio então a Atena. Esta deu a Prometeu, para este
colocar nos homens, o dom da inteligência. E assim nasceu o “homo
sapiens”: “o homem capaz de falar, contar, enfim, teorizar”. Porém o homo
sapiens só teorizava, com o homo faber não se unia. Dessa desunião as feras
tiravam proveito, predando
facilmente os homens. Prometeu percebeu
que faltava alguma coisa para unir o homem ao homem, o eu ao outro, a
identidade à diferença, para assim fortalecê-los reciprocamente. Prometeu pediu
enfim auxílio a Zeus, que ofertou a Prometeu, para este plantar nos homens, a
semente do sentimento ético da justiça. Prometeu preparou então um terreno para
plantar essa semente, fertilizando esse terreno com o adubo da coragem. Esse
terreno onde a semente da justiça foi plantada recebeu o nome de “coração”. As
decisões que nascessem do coração seriam chamadas de “sentenças” : “decisões sentidas e proferidas em favor da
comunidade”. Zeus fez apenas uma exigência: que essa semente fosse plantada em
todos os homens. E assim nasceu o “homo eticus” : “o homem cuja força e poder
está em seu coração justo”. Os homens aprenderam então a cooperar e não apenas
a pensar egoisticamente no interesse próprio. Nasceu assim a sociedade. Agindo
como ser social , o homem aprendeu a somar esforços, canalizar as criatividades e
reunir meios para vencer as feras com a força da engenhosidade. Contudo ,
alguns não confiavam nas sentenças do
coração justo e resolveram criar as leis escritas. Outros imaginavam que não vieram do barro, e logo começaram a crer que eram superiores aos outros e
“eleitos dos deuses”: propalavam que não
vinham do barro, mas do ouro . Entre eles
surgiu um tirano que tomou o poder com um exército, rasgou as leis e
transformou em escravos os oriundos do
homo faber. Esse tirano ainda mandou as covardes botinas do ódio pisotearem
os corações justos . Assim nasceu
uma elite militar-teocrática pior do que
os leões e hienas que antes predavam os homens.
Horrorizado, Zeus pensou em dizimar
os homens com um raio. Em vez disso, pegou o barro e o umedeceu com sua saliva.
Tomando como modelo Atena e Afrodite, nesse barro foi moldada a primeira mulher
: Pandora. Zeus a enviou aos homens . Mas dentro de Pandora Zeus não esculpiu
totalmente, e foi nesse interior livre que nasceu um aliado do coração
justo na luta contra a tirania dos homens. Esse aliado foi o útero, espaço de criação de algo que , até então, somente os deuses eram capazes de criar: a Vida.
- Imagem: "O núcleo da vida " / Frida Kahlo.