Em sua entrevista ao JN, Lula evocou
um belo e riquíssimo pensamento do educador
Paulo Freire : “É preciso nos unir aos divergentes para vencermos os
antagônicos”.
Toda divergência expressa uma
diferença que , afirmando-se, discorda. A palavra “discórdia” tem como raiz o termo “córdis”: “coração”.
Assim, discordar é “não colocar nosso
coração ” junto às ideias e
palavras que alguém nos diz; “concordar”, ao contrário, é colocar nosso coração
junto às ideias de alguém, partilhando-as.
Pessoas que pensam diferente sabem se
unir quando as move um concordar primeiro: o do valor da democracia enquanto
afeto que, antes de tudo, preenche seus corações . “Coragem” significa: “força
que vem do coração”. É essa força que move o agir daqueles que pela democracia
se unem e lutam.
Quem de fato põe seu coração na
democracia e a democracia no seu coração, sabe se unir àqueles que têm da
democracia uma perspectiva diferente . Pois é isto a democracia: a convivência
de perspectivas diferentes.
Quem concorda que a democracia é o
melhor regime político sabe discordar e divergir , sem ter ódio, de quem tem
visões diferentes da democracia . Pois a democracia é exatamente o regime que
se enriquece com visões diferentes ,
sendo a base da educação que liberta
ensinando a autonomia.
Já o antagônico é aquele que, antes de tudo, nega a
democracia. Por odiar a democracia, vê
como inimigo quem a ama e defende. Seu
ódio à democracia é rancor contra a diferença e pluralidade de perspectivas.
Quem concorda com o valor da
democracia sabe se unir a quem pensa
diferente. Mas os antagônicos se juntam apenas com antagônicos, sempre
fazendo do rebanho homogêneo o modelo de
agrupamento.
Os divergentes se unem pelo amor à
democracia ; já os antagônicos se
arrebanham pelo ódio ressentido que
preenche o vazio de seus corações
rancorosos.
(
foto de Lula: fotógrafo Ricardo Stuckert)