Segundo
os estudiosos da vida, a fase na qual fomos mais fortes e resistentes
corresponde àquela onde éramos apenas embriões. De fato, o embrião está mergulhado em uma
realidade em constante processo. Ou melhor, ele mesmo é uma realidade em
processo. E, como tal, sofre a força de movimentos intensos, uma vez que é o
caos vital o seu berço vivo , dentro do qual o embala um sono sem imagens. E seu psiquismo,
igualmente embrião, germe, ainda não tem contorno ou limites: por isso mesmo, o
embrião não pensa nem de dentro e nem de fora, mas simultaneamente em ambos, de
tal forma que mente e corpo estão unidos na sensação que o embrião é e explora.
Sua alma, híbrida com o corpo, é um deslimite.
No
indivíduo adulto formado, um pequeno movimento fora da ordem estabelecida de
seus órgãos pode lhe causar um dano irremediável, ou até mesmo a morte. Pois o
que é o infarto ou o derrame senão pequenos movimentos erráticos que põem
abaixo a ordem mantida pelos órgãos? Ou
seja, quanto mais pronto está um ser, mais fraco se torna para suportar os
movimentos não codificados pela ordem que lhe dá uma identidade e unidade.
Talvez por isso Manoel de Barros tenha
afirmado que a “poesia está sempre no escuro regaço das fontes.”
Para nos fazermos um com o movimento do mundo, do cosmo, do socius e dos nossos próprios desejos, devemos colocarmo-nos em
estado de embrião, germe. Pois o pensamento criativo e questionador requer que
nos coloquemos nesse estado. Como diz
Manoel de Barros, “há que se encontrar a primeira vez de uma frase para ser-se
poeta nela”.
Só é
possível pensar em estado de embrião . Experimentamo-nos, nessa
singular condição, como processo e movimento perpétuo, cuja identidade adquire uma
natureza exploratória, sendo o mundo o território no qual essa atividade exploratória
se exerce . O resultado dela somos nós mesmos enquanto agentes ao mesmo tempo
singulares e coletivos. Nas palavras de Deleuze: um sujeito larvar. Mesma ideia pode ser encontrada em Manoel de
Barros. Este processo, segundo ele, é
Lá onde a gente pode ver o próprio feto do verbo
ainda sem movimento.
Aonde a gente pode enxergar o feto dos nomes.
Lá onde a gente pode ver o próprio feto do verbo
ainda sem movimento.
Aonde a gente pode enxergar o feto dos nomes.
(trecho do livro)
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