O poeta Manoel de Barros afirma que
às vezes é preciso aprender “desaprendizagens”. Foram os pintores Miró e Paul
Klee que ensinaram ao poeta quando o “desaprender” se faz necessário . Foi
assim: Miró e Klee já eram famosos e reconhecidos. O estilo singular deles, antes novo, agora estava virando “Padrão” que os donos de galeria queriam ver imitado pelos artistas novos. Miró e Klee se tornaram “Cânones”,
réguas para medir os outros. A diferença que eles inventaram foi então
embalada como mercadoria para compra e venda:
virou “clichê”. Perdendo a confiança neles mesmos, empalhados vivos pela fórmula que se tornaram, eles passaram
por uma crise de criação, pararam de criar. Quando tentavam pintar, parecia que
a obra nascia de um molde ou fôrma , feito prisão que represava um fluxo de cor que já vivia dentro deles, mas que não
encontrava saída.
Até que , de repente, eles começaram
a pintar com a mão esquerda: a mão ainda não adestrada, mão de criança. E assim redescobriram a infância e a eles
mesmos: reinventaram-se num devir-criança.
Cada criação era o criar de novo nascendo ─ como novidade, experiência e descoberta. Ao
desaprender o “acostumado” da mão
direita, os artistas redescobriram a
pintura e a eles mesmos: reencontraram a alegria da criança cujo brincar e
inventar é a coisa mais séria e verdadeira.Toda gramática , não importa se
linguística , existencial ou política, é sempre da direita ; mas a reinvenção de
poéticas é ação e arte da mão esquerda.
“Liberdade não é o que se opõe à
necessidade, liberdade é o que põe a necessidade da ação” (Espinosa, “Tratado
político”, §11).
( imagem: “O jardim”, de Miró )
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