Na mitologia, Hipnos é o deus do sono
e irmão de Thânatos, o deus da morte. Hipnos morava em um castelo dentro de uma
caverna, na qual a luz do sol nunca entrou. Na entrada da caverna passava um
rio chamado “Lethes”. Em grego, “lethes” significa “esquecimento”. O contrário
de “lethes” é “aletheia” : “o que não pode ser esquecido”. “Aletheia” é como os
gregos chamavam a “verdade”: “aquilo que não pode ser esquecido”. Quem entrava
na caverna tinha que atravessar o rio Lethes, e assim esquecia da luz que
existia fora da caverna. Hipnos se casou com Nix ( a Noite) e com ela teve três
filhos: Morpheu ( o Adormecer) , Phantaso e Phantasia. Esses dois últimos eram
gêmeos. Quando Hipnos se deitava na cama , era Morpheu que o adormecia ,
enquanto Phantaso criava phantasmas dentro da mente de Hipnos ( “phantasma” é
uma imagem que imita a forma e as cores dos seres reais) . Phantasia, porém ,
embaralhava as fronteiras entre o estar desperto e o estar sonhando, de tal
maneira que Phantasia levava Hipnos a imaginar que estava desperto, quando na
verdade sonhava de olhos abertos. Phantaso cria sonhos, ao passo que Phantasia
produz delírios.
Ser “fantasioso” não significa a
mesma coisa que ser criativo. Os paranoicos, por exemplo, fantasiam coisas que
não existem, tomando suas fantasias como se fossem realidade, e assim deliram.
Todas as crianças nascem fantasiosas , e imaginam que existem monstros debaixo
da cama. Cabe à educação emancipadora despertar nas crianças a criatividade,
para que elas exorcizem os medos e descubram ludicamente o mundo. A fantasia às
vezes nada mais é do que negação da realidade, já a criatividade cria novos
sentidos para a realidade, e assim a potencializa e amplia.
Hoje, a ignorância está no poder e
faz do delírio a sua política. A ignorância é o sono da inteligência. Tal como
Hipnos, a ignorância também é parente da morte: sua política é a
“necropolítica”. A ignorância delira que revólver tem a ver com Cristo, delira
que a terra é plana, delira que os Beatles são satanistas, delira que
militarismo é democracia, delira que o vírus é só uma gripezinha...Ontem, ao
infectar o bozo, o vírus começou a acordá-lo do delírio de achar-se super-homem
e “messias” . Que não tarde o dia em que a justiça o acorde do delírio de achar
que ele e sua família estão acima da lei.
- "Lira" é o nome do instrumento que Orfeu, o poeta, toca. Mas "lira" também é o nome dos sulcos paralelos que são feitos na terra quando se prepara o terreno para lançar as sementes. As cordas da lira lembram esses sulcos na terra. Quando alguém se engana e lança a semente fora do sulco, diz-se então que a pessoa "de-lira", isto é, lança a semente fora do sulco. E fora do sulco a semente , ou uma ideia, não germina. É por isso que, na mitologia, a lira do poeta não era apenas criadora de música, ela também era produtora de "curas" .
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