Para Espinosa , o mais libertário dos conhecimentos favorece a experiência muito singular de usufruir. Nenhum conhecimento é digno de assim autointitular-se se não for o meio para o uso
de um fruir. Pois fruir não é uma coisa, fruir é um acontecimento, uma
experiência, um afeto.
"Fructos", fruto, vem de fruir, e significa "produto". Fruto
é um substantivo, porém fruir é um verbo, uma ação, um agir: é sempre das ações
que nascem os seres, não existe ser que
já não seja ação, a começar pela ação de existir, usufruindo-se.
Quem colhe o fruto e o prova,
diz-se que o frui. Mas esse sentido de fruir é derivado, existe um sentido primeiro.
Esse sentido primeiro expressa a atividade de produzir o produto. A árvore frui
a si mesma ao produzir o fruto. Ela usa a si mesma, se usufrui, como meio para produzir o seu fruto. Esse fruir
primeiro é inseparável de uma experiência de existir, da potência de existir.
Não apenas o fruto nos é útil, também é útil ao fruto a árvore, cujo útil é
produzir a si mesma, usufruindo-se como produtora de frutos. Nesse produzir de
frutos há sabores, saperes, os quais desconhece quem apenas conhece o sabor do
fruto, desconhecendo o que é ser produtor.
Usufruir é fruir a si mesmo como
produtor de frutos. Os frutos são as palavras, as ações, os afetos.
O homem
sábio não é aquele que frui apenas de si, ele frui a si mesmo enquanto meio de
produção de frutos , os quais poderão fruir os outros. Ele mesmo frui a si
próprio como fruto da Potência que flui de si mesma, mais Semente Absoluta do que árvore ou fruto.
Tudo é experiência de usufruto, tudo é meio para o usufruir: ideia, afeto, eternidade, conhecimento, liberdade.
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