quarta-feira, 9 de agosto de 2017

o usufruir...

Para Espinosa , o mais libertário dos conhecimentos favorece a experiência muito singular de usufruir. Nenhum conhecimento é digno de assim  autointitular-se se não for o meio para o uso de um fruir. Pois fruir não é uma coisa, fruir é um acontecimento, uma experiência, um afeto. 
"Fructos", fruto, vem de fruir, e significa "produto". Fruto é um substantivo, porém  fruir é um verbo, uma ação, um agir: é sempre das ações que nascem os seres, não existe ser  que já não seja ação, a começar pela  ação de existir, usufruindo-se.
Quem colhe o fruto e o prova, diz-se que o frui. Mas esse sentido de fruir é derivado, existe um sentido primeiro. Esse sentido primeiro expressa a atividade de produzir o produto. A árvore frui a si mesma ao produzir o fruto. Ela usa a si mesma, se usufrui,  como meio para produzir o seu fruto. Esse fruir primeiro é inseparável de uma experiência de existir, da potência de existir. 
Não apenas o fruto nos é útil, também é útil ao fruto a árvore, cujo útil é produzir a si mesma, usufruindo-se como produtora de frutos. Nesse produzir de frutos há sabores, saperes, os quais desconhece quem apenas conhece o sabor do fruto, desconhecendo o que é ser produtor. 
Usufruir é fruir a si mesmo como produtor de frutos. Os frutos são as palavras, as ações, os afetos. 
O homem sábio não é aquele que frui apenas de si, ele frui a si mesmo enquanto meio de produção de frutos , os quais poderão fruir os outros. Ele mesmo frui a si próprio como fruto da Potência que flui de si mesma, mais Semente Absoluta do que árvore ou fruto. 
Tudo é experiência de usufruto, tudo  é meio para o usufruir: ideia, afeto, eternidade, conhecimento, liberdade.





Manuel Mendive, El mango - 1985.

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