No livro O guardador de águas, Manoel diz que poeta é quem
guarda águas. Não ouro, dinheiro ou informação, mas águas.Guardar também é
cuidar. As águas não são exatamente coisas, elas são fluxos. O poeta cuida de
fluxos. Fluxos dentro e fora dele. Cuidar dos fluxos é deixá-los passar, ir ;
cuidar deles é o oposto de construir barreiras, represas, muros, obstáculos,
gramáticas. Os fluxos são sempre desterritorializados e desterritorializantes.
Não se pode "passar régua" sobre eles, não se pode codificá-los,
estriá-los. Os fluxos são lisos, esquizos, nômades, andaleços. Só se pode
guardar fluxos sendo também um. Os fluxos nascem de fluxos, não de coisas
imóveis ou fixas. O rio amazonas não nasceu da geleira parada, mas da geleira
devindo fluxo, pingando, correndo, fluindo. Os fluxos somente podem ser
guardados em espaços abertos, horizontados; seja esse espaço horizontado o
pantanal, a mente ou o coração. O horizonte guarda a paisagem, mas sem
cercá-la, sem se dizer dela o dono.
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