Quando se fala muito claramente,
fala-se muito infinitamente.
Maria Gabriela LLansol
No sentido original da palavra, "místico" significa unidade. O místico assim compreendido é aquele que quer
vencer as dualidades, as separações. A principal separação a ser vencida é tão entranhada na existência humana que há dela versões filosóficas e mesmo científicas. Trata-se da separação que coloca,
de um lado, o eu, o ego, e , de outro, o
mundo. Em outras palavras, a subjetividade e a objetividade.
Toda prática que coloca o eu como ponto de apoio privilegiado e exclusivo, finda por criar separação entre o próprio eu e tudo aquilo que dele é diferente, a começar por suas palavras e ações. Assim, entre o eu que fala e suas palavras, entre o eu que pensa e seus pensamentos, entre o eu que age e suas ações, entre o eu que sente e suas emoções, entre o eu e tudo o que não é ele próprio haverá uma separação, de tal modo que o eu nunca estará totalmente nas palavras que diz, nos gestos que faz, no afeto que dá. Ele se coloca ou imagina colocar-se fora de tais realidades. Porém, o que de fato ocorre é um enfraquecimento de tais realidades: suas palavras perdem veracidade, suas ações ficam destituídas de autenticidade, seus pensamentos são mais imaginações do que de fato pensamentos.
Toda prática que coloca o eu como ponto de apoio privilegiado e exclusivo, finda por criar separação entre o próprio eu e tudo aquilo que dele é diferente, a começar por suas palavras e ações. Assim, entre o eu que fala e suas palavras, entre o eu que pensa e seus pensamentos, entre o eu que age e suas ações, entre o eu que sente e suas emoções, entre o eu e tudo o que não é ele próprio haverá uma separação, de tal modo que o eu nunca estará totalmente nas palavras que diz, nos gestos que faz, no afeto que dá. Ele se coloca ou imagina colocar-se fora de tais realidades. Porém, o que de fato ocorre é um enfraquecimento de tais realidades: suas palavras perdem veracidade, suas ações ficam destituídas de autenticidade, seus pensamentos são mais imaginações do que de fato pensamentos.
No sentido original do termo, o místico, diferentemente ao
egoico, deseja formar uma unidade: entre ele e sua palavra ele vive uma unidade, de tal modo que sua palavra nunca é demasiado teórica,
tampouco vazia de verdade; entre ele e suas ações
também o místico vive uma
unidade, por isso ele se coloca inteiro
no que faz, mesmo na mais cotidiana tarefa; entre ele e seus afetos o místico vive uma unidade, assim ele nada
faz sem sentir, e nada sente sem estar no que sente.
Formar uma unidade não
significa se apagar ou se anular, pois a unidade assim formada não é destituída
de partes. O místico busca fazer parte de
tudo o que ele é uma parte, vez que ele é parte do que diz, do que faz, do que sente.
Além
desses aspectos, a principal unidade que o místico busca é com o infinito. Mas
ele sabe que não há como formar uma unidade com o infinito sem formar também uma
unidade com o que fala, com o que faz e com o que sente. No entanto, não podemos
formar uma unidade com o que sentimos , com
nossas ações e com nossas palavras sem formarmos , antes de tudo, uma unidade com o infinito : no autêntico
místico, é o próprio infinito que também podemos ouvir em sua
fala, ver em sua ação e sentir em seu afeto. O infinito não é a galáxia
distante. A galáxia distante é parte do infinito, assim como cada coisa que
falo, sinto e faço também o são.
Imaginem uma guerra para abolir as fronteiras. Que país
poderia travá-la sem ser , antes, o primeiro a abolir as suas? Não exatamente as
fronteiras físicas, pois essas são apenas efeitos, consequências. As
fronteiras internas, são estas que o místico desfaz, sobretudo as fronteiras que separam , dentro do pensamento, como Estados em guerra, a inteligência e a imaginação, o conceito e a poesia.
Uma gaiola é uma cerca
em 360 graus. Todos se engaiolam em suas
próprias mentes quando dizem “eu” , como realidade excludente do infinito.
E quem apenas sabe raciocinar , medir e contar, porém nada sabe de poetizar e
filosofar, assemelha a esses passarinhos que até cantam bonito, mas nada sabem, nada saberão, do que é voar e cantar no último galho da árvore mais alta, mesmo correndo o risco de ser predado pelas aves de rapina.
Uma guerra para abolir tais fronteiras, porém, não é travada com balas e armamentos. Ela
começa no esforço para produzir a mínima unidade que seja entre nós mesmos e
aquilo que dizemos, fazemos, sentimos e
pensamos. Uma unidade de composição, uma relação, um agenciamento, por mais
mínimo e modesto que seja.
O autêntico pintor vive uma unidade mística com suas tintas,
o autêntico poeta vive uma unidade mística com suas palavras , o autêntico
homem vivem uma unidade mística com a humanidade. Na unidade assim formada nunca há apenas dois,
pois essa unidade conquistada não é um
fim em si, ela é meio para engendrar outras coisas, fecundando e fecundando-se,
tal como acontece no amor.
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