“Philo” não significa apenas amizade, também significa "amor".
Platão se vale dessa última significação presente em “philo-sofia” para distinguir de forma mais forte a
diferença entre o sofista e o filósofo.
Quando se pensa philo apenas como “amizade”,
fica-se somente no plano do discurso .
De fato, entre os amigos há troca de
palavras, "conversações". Os sofistas se valem desse aspecto prosaico de philo para imitarem a aparência de filósofos, porém o sendo apenas em retórica,
em palavras. As conversações alimentam
rivalidades, disputas. Mas philo como amor não permite essa confusão, pois quem
ama não faz apenas conversações. Quem
ama vive comunhões, "conversões". Quem
ama, inclusive, ama muitas vezes em silêncio , e demonstra que tem em si esse
afeto mais agindo do que falando.
Não raro, é o amado que diz quem de fato o ama.Assim, o amado
pelo filósofo autêntico devolve ao filósofo a potência de amar ainda mais.Como o filósofo ama o infinito, é o infinito o que é devolvido ao filósofo, e este o recebe fazendo parte dele, singularmente. Quem
assim ama, exerce um desapego visível , desapego esse do qual o sofista não é
capaz, pois de apegos a honras, fama e dinheiro vive o sofista.Mas do infinito não há apego ou posse, dele não pode haver inveja ou ciúme, tampouco rivalidade para ser dele o dono.
Espinosa , por sua vez,
evoca a experiência para definir
o filósofo. Porém, o filósofo não é um
empirista apenas. Tampouco o filósofo faz da experiência o meio para testar hipóteses, como faz o cientista .
A experiência ensina ao filósofo lições que os livros não podem ensinar. E o que a experiência ensina?
Ela ensina o experimento. A experiência é repetição, a repetição pode ensinar
.A experiência devém mestre não por nos dar lições em palavras, e sim porque é
nela, e não em meras palavras, que devimos experimento
para nós mesmos. É na experiência com a vaguez do mundo que pode haver o
experimento de que conquistamos ou não alguma consistência, isto é, fortitudo.
A arte nunca elimina o acaso: é a partir do acaso
que a arte engendra as autênticas necessidades, dando ao necessário o seu
devir, como devir-necessário do acaso. Não apenas experimento o mundo, sou
experimento para mim mesmo na experiência com o mundo. A experiência não confirma
conhecimentos a priori, ela efetiva a construção de uma arte, engenho.
É na experiência que experimento a mim mesmo se sou o que
penso de mim mesmo, se sou o que digo de mim mesmo.
A experiência é repetição: é nela que me afirmo diferença que persevera , adequada a si mesma.
Da
madeira e do cinzel qualquer um pode ter experiência. Mas é no produzir da obra
que alguém pode ter de si o experimento de escultor.
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