quarta-feira, 16 de maio de 2018

manoel, tirésias & candeia


A palavra abriu o roupão para mim:
ela quer que eu a seja
Manoel de Barros



O homem mais sábio da Grécia não foi Sócrates, Platão ou Aristóteles. O maior sábio  foi Tirésias, o “cego”. Certa vez, quando ainda enxergava como todo mundo,Tirésias resolveu subir o rio que passava perto  de sua casa, pois nasceu-lhe o desejo de  ver a fonte. Somente  indo contra a corrente  se pode achar  nascentes, de rio ou de ideias . A fonte nunca vive no “acostumado” , no “mesmal”. À medida em que avançava, Tirésias via paisagens e seres nunca antes vistos, dos quais desconhecia o nome e o rosto.  Enquanto prosseguia, não via trilhas ou pegadas. Hesitou, quase abortando sua “linha de fuga”. Mas prosseguiu, perseverante.Então , quando alcançou o sonhado “minadouro”  , Tirésias  viu Atena a banhar-se na fonte. Ele viu a deusa da sabedoria nua, despida   da veste dos livros e  livre  das acadêmicas teorias .  Pois  a   autêntica sabedoria  é fonte que renova a si mesma , para que em nós  não seque a vida. Quando a sabedoria nua se mostra, revela-se ser poesia.
“Desabriu” em Tirésias uma “visão fontana” , diria Manoel,  ao ver “a origem que renova”.  Tal visão parece  “cegueira”, “ignorãça”, aos olhos de quem nunca viu Atena “sem o roupão”, nua.

 Cego é quem vê só aonde a vista alcança.
Candeia.






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