A palavra abriu o roupão para mim:
ela quer que eu a seja.
Manoel de Barros
O homem mais sábio da Grécia não foi
Sócrates, Platão ou Aristóteles. O maior sábio foi Tirésias, o “cego”. Certa vez, quando
ainda enxergava como todo mundo,Tirésias resolveu subir o rio que passava
perto de sua casa, pois nasceu-lhe o
desejo de ver a fonte. Somente indo contra a corrente se pode achar
nascentes, de rio ou de ideias . A fonte nunca vive no “acostumado” , no
“mesmal”. À medida em que avançava, Tirésias via paisagens e seres nunca antes
vistos, dos quais desconhecia o nome e o rosto.
Enquanto prosseguia, não via trilhas ou pegadas. Hesitou, quase
abortando sua “linha de fuga”. Mas prosseguiu, perseverante.Então , quando
alcançou o sonhado “minadouro” ,
Tirésias viu Atena a banhar-se na fonte.
Ele viu a deusa da sabedoria nua, despida
da veste dos livros e livre das acadêmicas teorias . Pois
a autêntica sabedoria é fonte que renova a si mesma , para que em
nós não seque a vida. Quando a sabedoria
nua se mostra, revela-se ser poesia.
“Desabriu” em Tirésias uma “visão
fontana” , diria Manoel, ao ver “a
origem que renova”. Tal visão
parece “cegueira”, “ignorãça”, aos olhos
de quem nunca viu Atena “sem o roupão”, nua.
Cego é quem vê só
aonde a vista alcança.
Candeia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário