(trecho da Apresentação do livro)
Se
estivesse vivo, Manoel de Barros completaria 100 anos em 2016. Mais precisamente, no dia 19 de dezembro. Esse
número tão expressivo parece contrastar com a imagem que o poeta imprimiu à sua
obra. Não são as datas e a passagem do tempo que o interessam, mas “as origens
que renovam”[1].
Quanto mais o tempo passa, mais a obra de Manoel de Barros parece nos encantar
como seus inauguramentos, seus exercícios de ser criança: “Quem é
quando criança a natureza nos mistura
com suas árvores, com as suas águas, com o olho azul do céu. Por tudo isso que
eu não gostasse de botar data na existência”[2].
Este
livro nasceu de evento-homenagem ao poeta acontecido em outubro de 2016, na
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Tal como no evento, quisemos
fazer um livro-homenagem também plural, transdisciplinar, reunindo filósofos, poetas,
pesquisadores, enfim, profissionais que encontraram na obra do poeta um caminho
para a invenção de ideias. Manoel foi para nós um intercessor. Um intercessor não nasce da intercessão de opiniões
idênticas ou semelhantes, mas do produzir singularmente uma área de afeto onde
não se diz mais "eu" ou "outro": ousa-se dizer
"nós", mesmo que ainda em balbucio ou gaguejando. O intercessor-Manoel
nos colocou em estado de embrião, como forma
em rascunho, no limite de nós mesmos, desabrindo-nos. Somente dessa maneira
pudemos, com Manoel, ousar um “afloramento de falas”.
Os
artigos aqui presentes são testemunhos desse pôr-se em rascunho. Apenas assim, deslimitados, podemos tentar dizer,
sendo muitos, o que Manoel disse sendo único.
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