Platão dizia que
no "Mundo das Ideias", mundo que existe acima do tempo, lá nesse mundo passa um
rio de nome “Lethes”. Em grego, “lethes” significa “esquecimento”. Então, antes
de “encarnar” e viver em um corpo aqui e agora, a alma deveria , lá naquele Mundo etéreo ainda , beber certa quantidade de água daquele rio, conforme o tipo de vida que
escolhesse viver aqui embaixo. Se escolhesse levar uma vida voltada para as
posses , vaidades e pretensões, deveria a alma beber muito daquela água. Se, ao
contrário, desejasse a alma viver uma vida autêntica, deveria beber apenas um
pouquinho para poder nascer em um corpo. Pois “verdade” em grego se escreve “aletheia”, “não
esquecimento”. Assim, quem muito bebe daquela água esquece da verdade de que é
essencialmente uma alma, algo
incorpóreo, e passa a viver como se fosse apenas um corpo, como os bichos. Ao contrário,quem
bebe pouco do rio do esquecimento da verdade
nunca se perde de si mesmo, mesmo estando em um deserto ou no meio do
nada.
O rio de
Heráclito ninguém sabe onde começa, tampouco onde termina. Acredita-se que ele
é como a serpente a comer o próprio rabo. Quem entra nesse rio e depois sai,
quando entra novamente o rio já não é mais o mesmo, nem é mais o mesmo aquele
que agora entra. Esse rio é o tempo. As águas que passaram vão retornar, e as
que retornam um dia já se foram, nunca as mesmas.
Diferentemente
do “rio de Heráclito”, que não tem começo ou fim (e nele se entra apenas pelo
meio, pelo fluxo,pelas margens), o rio que leva ao Hades, o rio Aqueronte, nasce
aqui, no tempo, e morre às portas do Hades: ele tem apenas um sentido, sempre
vai e nunca volta. Ele leva ao Esquecimento Absoluto. Orfeu foi até lá sem morrer
ou estar morto: ele soube encontrar um
retorno contra a corrente, e subir de novo à vida sem precisar de "tábuas da salvação" ou de barcos. Bastou-lhe apenas a
poesia em socorro para vencer a Morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário