Vivemos dias nos quais se multiplicam situações que nos deixam indignados. Mas nada é mais revoltante do que ver um
senhor que se diz “professor” , o atual “ministro da educação”, recomendar a volta da palmatória, querendo que
a sala de aula se transforme num lugar para se torturar jovens e crianças, bem ao gosto do chefe dele que
idolatra torturadores. Quando fiz o antigo
segundo grau tive um “professor” desse tipo. Ele era simpatizante
ferrenho da ditadura militar ( que perdia força naquele momento com a “Abertura”
). Além de diretor não eleito do colégio, esse professor lecionava gramática. Rígido
e dogmático, ele fazia da gramática a sua
“Caaba”. Ele era um fanático por Ordem, na gramática e no exercício
autoritário do poder. “O importante é a Norma;
pois exceção e diferença, na gramática e fora dela, não têm importância e levam
ao erro” , dizia ameaçando. “Mas professor, o português não nasceu do latim
falado errado?”, questionou certa vez o “Jimi”,
o provocador da sala ( a gente o chamava
de “Jimi” porque ele estava sempre com uma camiseta colorida do “Jimi
Hendrix” por baixo da camisa do uniforme
escolar homogêneo e “mesmal”). Um olhar repressor
era o que o gramático-censor dava como resposta...
Esse professor/diretor também proibia a gente de criar o grêmio estudantil . Certa vez então montamos uma estratégia: fingimos criar um grupo de teatro, quando na verdade a gente se reunia no auditório para falar de política, assunto que o diretor censurava. Quando ele aparecia de surpresa no auditório para nos patrulhar, a gente fingia que estava ensaiando uma peça. Sem entender nada, gritando ele perguntava : “Que peça é essa!?” “É Beckett, professor. Não tem roteiro...”, a gente respondia segurando o riso. E ele ia embora desconfiado e olhando de lado.
No nosso grupo havia um garoto cujo
apelido era “Che”. Fazendo jus ao apelido, “Che” bolava “ ações de enfrentamento
direto contra o ditador”, era assim que ele dava nome teórico às peraltagens
subversivas que bolava. O tal professor possuía um fusquinha verde-oliva cujo
para-brisa tinha um adesivo de uma caveira com duas adagas enfiadas no
crânio, um símbolo militar do qual se
apropriou também à época o “esquadrão da
morte”, o avô da atual milícia. Certa vez o “Che” esgueirou-se pelo estacionamento
e enfiou duas batatas inglesas bem na saída do cano de
descarga do fusquinha-caveira. Da sala de aula deu pra ouvir o estrondo quando
o fascista ligou o carro...Mas ele não se feriu, “foi só pra assustar”, dizia o
“Che” discretamente. Não sabemos ao certo se devido a isso, no dia seguinte
o diretor fascista aparecia mais cordial,
menos intolerante, parecendo ter lampejos de que era um professor, e não um carrasco.
Ele até sorria pra gente... Mas isso não durava muito, e logo o “Che” precisava
voltar à ação, sem exceção.
link para o filme (completo e legendado):
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