Sempre que hoje se pensa no tempo, de
imediato vem a imagem de um relógio. Muitos associam tempo a dinheiro também ; e há os que nem
gostam de pensar no tempo, dizem que dá desespero pensar em como ele passa
rápido . Mas há outras ideias de tempo
que foram abafadas por essa imagem dominante do tempo-relógio-dinheiro. Entre
os gregos, por exemplo, havia pelo menos três concepções do tempo: Crono, Aion
e Kairós.
Crono ( ou Kronos) é o tataravô do tempo-relógio, pois Crono é aquele que toma o lugar de seu pai Uranos (
o “Céu” ou a “Eternidade”) e passa a devorar seus filhos. Crono é o pai dos
dias, dos mesmos dias que ele devora.
Aion é o tempo enquanto “força da
vida” ou “tempo vital”. O relógio mede o começo e o fim das coisas, o ponto
inicial e o final, ao passo que Aion é a duração do que transcorre no meio. Aion
é o fluxo do rio: o devir entre a foz e a nascente. Tudo o que tem vida se
explica não pelo seu fim, mas pelo seu meio e enquanto dura, cresce, avança. O poeta
Manoel de Barros diz que “não precisa do fim para chegar”, pois é no meio do
poema que Aion está. O tempo do relógio diz que Espinosa viveu 44 anos, uma vida
breve. Porém enquanto durou sua vida, seu Aion, Espinosa viveu a eternidade e a expressou em sua
“Ética”, seu aiônico livro. Aion não se mede por números ou quantidades, mas
pela intensidade e potência de uma vida. Vida que , por intermédio de seus frutos, permanece e perdura para além do fim determinado por
datas e relógios. Crono devorou os dias em que viveram Espinosa e Manoel , assim como devora também
os nossos; porém aionicamente o filósofo e o poeta ainda estão vivos, e em versos e ideias nos ensinam a como não
nos deixarmos devorar.
Kairós é o tempo conhecido como a
“quarta dimensão”. Enquanto Crono possui três dimensões ( passado, presente e
futuro) , Kairós é a quarta dimensão chamada de “tempo oportuno”. Em latim, “oportunus” era o
nome do vento que reconduzia ao porto o
navio perdido em alto mar . Kairós é o
tempo da ação, da ação oportuna que muda
uma situação e cria situação nova. Kairós
é o tempo da palavra, da palavra que se torna mais do que palavra : quando
dela nasce a ação transformadora. Quando é o momento oportuno? O momento
oportuno não existe antes de ser criado
: todo momento pode ser momento oportuno, desde que produzido e engendrado,
agora e não amanhã. Não há cartilhas que ensinam o momento oportuno, porém
saber o momento oportuno é o maior dos aprendizados .
"O tempo só anda de ida.
A gente nasce, cresce, envelhece e
morre.
Pra não morrer
é só amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
amarrar o tempo no poste!" (Manoel
de Barros)
- Um dos melhores filmes sobre o tempo:
Um comentário:
Dizem-me que o tempo é infinito.
Sou incapaz de imaginar o tamanho do infinito. Busco compreender o tempo e sua infinitude e para isso tento dividí-lo em partes.
Instantes, momentos, antes, agora, depois. Vou percebendo e classificando.
Segundos, minutos, horas, dias, meses, anos...
...tic-tac...
As partes relacionadas comigo vou contando como se fosse um tempo meu.
...tic-tac...
Algumas pessoas dizem que ganham tempo; ou perdem, ou gastam, ou vendem o que tem, ou compram o tempo de outrem...
Outras pessoas contam histórias de outros tempos que também contam a história do tempo. Formo assim uma perspetiva histórica.
...tic-tac...
Imagino possibilidades, probabilidades. Sonho. Formo uma perspectiva (ou seria prospectiva?) de futuro.
...tic-tac...
Fico absorto imaginando o tempo infinito e imagino o quanto a minha mente mentiria para mim mesmo, enganando-me sobre a compreensão da infinitude de algo.
Durmo em meio aos meus pensamentos. E sonho.
Eu sonho que acordando descubro o melhor presente que o tempo pode me dar: o "agora", para ser vivido a todo tempo.
Assim, meu tempo é infinito.
robertomarques
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