Alguns biógrafos de Espinosa afirmam
que o filósofo era sempre visto com um pequeno caderno. Chovesse ou fizesse
sol, inverno ou primavera, Espinosa não
largava seu pequeno caderno. Quem teve a oportunidade de ver tal caderno, ainda
que rapidamente, constatou que nele
havia não apenas a escrita de conceitos já nascidos , também havia desenhos coloridos e esboços de
conceitos ainda por nascer.
O poeta Manoel de Barros dizia que ,
antes de virarem livro, seus poemas eram rascunhados em “caderninhos do caos”. O próprio poeta
confeccionava esses caderninhos com as mãos . Também à mão e
a lápis , em tais caderninhos do
caos o poeta escrevia o feto de futuros livros. Creio ser um caderninho assim aquele
no qual Espinosa esboçava suas ideias e desenhos. Na mitologia, Gaia, a
Mãe-Terra, emergiu do Caos. Igualmente
do Caos emergem as poesias e filosofias que são “Novas Terras ” para o
pensar e o sentir em seus
horizontamentos. Pois esse “Caos” poético-filosófico não é destruição ou
desordem, ele é uma realidade não formada, pura virtualidade não domada, útero
cósmico do qual nasce tudo o que escapa e resiste às Ordens Totalitárias.
Infelizmente, esse caderninho de
Espinosa se perdeu... Quando o filósofo morreu, capitalistas rapinadores foram
ao seu quarto surrupiar as lentes que ele fabricava e polia, lentes já famosas
pela qualidade e que valiam um bom dinheiro;
e fanáticos religiosos também
invadiram o quarto atrás de
coisas para pegar e tacar fogo. Tudo leva a crer que o caderninho de Espinosa não escapou a esses intolerantes
e sua fogueira de ódio; porém a potente, colorida e libertária chama que do caderninho se desprendeu ao ser queimado ainda vive
em quem persevera com a alma
acesa , e resiste ao breu.
“Eu sou uma chama acesa!
E rebrilho e rebrilho toda essa escuridão”.
(Clarice Lispector)
( imagem: “Espinosa multicor” )
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