sábado, 29 de setembro de 2018

manoel & o sabiá


No livro “Arranjos para assobio” , Manoel de Barros define a si mesmo como um “sabiá com trevas”. “Trevas”, aqui, não é sinônimo de ignorância, como a que sai pela boca dos ignorantes. Essa treva do sabiá-poeta também não é como a de um túmulo ou caverna, mais parece a treva de um útero , como o de Gaia-Terra, pois começa em treva assim todo germinar: de gente, de planta, de bicho, de poema. Um ser assim, metade canto metade treva, furta-se às regras da lógica e do senso comum, embora não se furte, como diz o poeta, “ à espessura do amor”: somente tal afeto pode unir as dissimetrias, sem apagar as diferenças.

( o texto acima é parte de capítulo que escrevi para este livro do Festival Nacional de Cultura Popular da UFF, que homenageou Manoel e outras expressões da cultura brasileira)




( áudio do vídeo: canto de um sabiá)


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