No livro “Arranjos para assobio” ,
Manoel de Barros define a si mesmo como um “sabiá com trevas”. “Trevas”, aqui,
não é sinônimo de ignorância, como a que sai pela boca dos ignorantes. Essa
treva do sabiá-poeta também não é como a de um túmulo ou caverna, mais parece a
treva de um útero , como o de Gaia-Terra, pois começa em treva assim todo
germinar: de gente, de planta, de bicho, de poema. Um ser assim, metade canto
metade treva, furta-se às regras da lógica e do senso comum, embora não se
furte, como diz o poeta, “ à espessura do amor”: somente tal afeto pode unir as
dissimetrias, sem apagar as diferenças.
( o texto acima é parte de capítulo que escrevi para este livro do Festival Nacional de Cultura Popular da UFF, que homenageou Manoel e outras expressões da cultura brasileira)
( o texto acima é parte de capítulo que escrevi para este livro do Festival Nacional de Cultura Popular da UFF, que homenageou Manoel e outras expressões da cultura brasileira)
( áudio do vídeo: canto de um sabiá)
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