Assim
diz o mito: quando Ulisses retornou à sua casa, viu que muitos queriam ocupá-la
, já o tomando por morto. Eram os “pretendentes” ao poder, que queriam
inclusive tomar-lhe a esposa Penélope. Ulisses se acercou deles disfarçado de
velhinho, fingindo ser um pretendente também. Penélope propôs então uma prova:
“terá minha mão e a chefia da pólis aquele que dobrar o arco de Ulisses”. Os
pretendentes se atropelaram, todos
queriam ser o primeiro, julgando que seria fácil aquela prova. O arco passou
pela mão de cada um , mas sem se dobrar um milímetro. Até que chegou a vez do
velhinho...Todos zombaram , julgando pela aparência que viam, pois pretensiosos só veem aparências, e
ignoram o autêntico esforço. O velhinho-Ulisses, porém, dobrou o arco, e
não foi com meros músculos.
Quando
a corda do arco fica tensa, ela se torna capaz de "vibrar" e lançar a
flecha longe. Essa força potencial que nasce da corda tensionada era chamada de
“vis”, de onde nasceu “virtude”, como força ou “intensio” ( "ir para dentro da
vibração”) que dota a alma da capacidade de pôr-se à prova, às claras, para
assim lançar longe, pelo exemplo, as
ações ou palavras que nascem dela, como flechas.
Segundo
Plotino, há duas possibilidades para o homem: ser Narciso ou ser Ulisses.
Narciso é o egoísta a querer que o outro seja uma cópia ou réplica dele mesmo.
Quando dois Narcisos se encontram, portanto, é ódio recíproco, pois um quer
anular a diferença do outro. Já Ulisses é o retorno da alma a si mesma por
intermédio da ação ético-política que
dobra as impossibilidades pela força de querer mais do que o possível. É do caráter,
e não dos músculos , que vem a potência que vence as provas ético-políticas e
distingue o autêntico do mero usurpador dissimulado.
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