sábado, 16 de dezembro de 2017

para o meu tatatatatataravô


Entre os tupinambás que aqui viviam ,  quando um guerreiro morria  era necessário um último ritual. Os tupinambás foram povos guerreiros que nunca aceitaram ser escravizados.  Eles só aceitavam como chefe aquele que maior capacidade tinha em se desapegar do poder. Os tupinambás não faziam guerra para ampliar posses ou fazer escravos. Eles guerreavam quando sentiam sua liberdade em risco, e preferiam a morte a viverem sem honra.
 Para eles, a  morte era a última prova, especialmente para os chefes e guerreiros, isto é, para aqueles que eram tidos como valentes, corajosos, generosos, leais.
Então, quando o guerreiro morria, pintavam seu corpo com as tintas extraídas do jenipapo. Colocavam junto ao corpo suas armas , bem como a flauta feita do fêmur oco do inimigo vencido  .Quanto mais valente o guerreiro, mais flautas possuía e tocava para advertir os inimigos: quando os colonizadores ouviam o réquiem da taba se aproximando , saiam correndo...
Ao fim  da tarde , punham o corpo do guerreiro numa canoa  e a empurravam em direção ao horizonte. Os tupinambás não acreditavam na separação entre mar e céu. O azul de ambos confirmava suas crenças: lá no horizonte se encontrava uma fronteira . Guardando esse limiar estava o Grande Ancestral. Se o guerreiro na canoa fora  um dissimulado, um traidor  que a todos iludiu com esperta lábia, disso saberia o Guardião, que barraria o dissimulado na travessia ao mar do céu. Mas se o guerreiro de fato fora honrado , e não um farsante, o Guardião o deixava atravessar  para no céu ser eterna estrela.

No dia seguinte ao ritual, os tupinambás corriam à praia para ver se as ondas cuspiram uma estrela do mar. Se  achassem uma, choravam envergonhados por terem sido enganados por tal imitação de homem virtuoso. Mas se não achassem essa estrela sem luz, na noite daquele dia faziam uma alegre festa, pois mais um guerreiro valoroso estava brilhando  como estrela viva a protegê-los dos maus.



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