A
nave Voyager , enviada ao espaço há 30 anos, acaba de sair do sistema solar e
entrar no oceano desconhecido do cosmos. Ela tem apenas o endereço do remetente, o destinatário é
desconhecido, se é que existe um. A Nasa colocou um disco de cd feito
de ouro nessa nave. Há sons gravados nele como mensagem do que somos . O ouro foi escolhido pela sua
durabilidade, e não pelo seu valor monetário. Esse disco pode durar até um
milhão de anos, tempo superior ao que os cientistas supõem que a humanidade ainda durará.
Assim,
se esse disco for encontrado daqui a esse tempo, haverá nele o relato, o poético relato, de certo ser
estranho já extinto. Estão no disco , como testemunho do que somos e
sentimos: sons de grilo e sapo; uma baleia cantando; batidas do coração de um
recém-nascido, e as primeiras palavras de sua mãe quando ele abre os olhos; o
som das ondas cerebrais de uma jovem que
acabou de se apaixonar; um cão doméstico latindo feliz ao retorno do seu dono;
o som de um beijo; sons de chuva e
vento; o ribombar de um trovão ( e também o estrondo de um vulcão que acaba de
acordar); risos de crianças brincando; o barulho suave de uma página de livro
sendo folheada; o rizoma sonoro de todas as línguas e dialetos falados
desejando um “bom dia”. Não há no disco sons de balas , de guerras ou bombas,
tampouco discursos filosóficos , científicos ou religiosos proferindo “Verdades Inquestionáveis e Eternas" acerca do que somos , pois talvez já não
seremos mais.
Noite estrelada sobre o Ródano, Van Gogh |
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