sábado, 2 de dezembro de 2017

a mensagem

A nave Voyager , enviada ao espaço há 30 anos, acaba de sair do sistema solar e entrar no oceano desconhecido do cosmos. Ela tem apenas  o endereço do remetente, o destinatário é desconhecido, se é que existe um.  A Nasa colocou um disco de  cd feito de ouro nessa nave. Há sons gravados nele como mensagem   do que somos . O ouro foi escolhido pela sua durabilidade, e não pelo seu valor monetário. Esse disco pode durar até um milhão de anos, tempo superior ao que os cientistas supõem que  a humanidade ainda durará.

Assim, se esse disco for encontrado daqui a esse tempo, haverá nele  o relato, o poético relato, de certo ser estranho já extinto. Estão no disco , como testemunho do que somos e sentimos: sons de grilo e sapo; uma baleia cantando; batidas do coração de um recém-nascido, e as primeiras palavras de sua mãe quando ele abre os olhos; o som  das ondas cerebrais de uma jovem que acabou de se apaixonar; um cão doméstico latindo feliz ao retorno do seu dono; o som de um  beijo; sons de chuva e vento; o ribombar de um trovão ( e também o estrondo de um vulcão que acaba de acordar); risos de crianças brincando; o barulho suave de uma página de livro sendo folheada; o rizoma sonoro de todas as línguas e dialetos falados desejando um “bom dia”. Não há no disco sons de balas , de guerras ou bombas, tampouco discursos filosóficos , científicos ou religiosos proferindo  “Verdades Inquestionáveis e Eternas" acerca  do que somos , pois talvez já não seremos mais.

Noite estrelada sobre o Ródano, Van Gogh


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