Na mitologia, Museu foi um personagem filho de Orfeu. Tal
como seu pai, Museu também era um poeta. Mas ele fazia poema com coisas, com
fragmentos, e não apenas com palavras. Cada ser que existe, percebeu Museu, vai produzindo e guardando
coisas, que são testemunhos de uma vida, partes de um todo. Quando uma pessoa
desaparece ou morre, ficam apenas os fragmentos. Estes podem se dispersar e se
perder, morrendo uma morte por esquecimento ou descuidado. Assim, Museu cuida
desses fragmentos, novamente os compõe , desejando que estes expressem , de
alguma forma, o ser daqueles que os produziram
e guardaram.
Foi com Museu que nasceu a ideia de exposição. Assim como
um poema reúne palavras com a intenção de comunicar um sentido, uma exposição é
produzida para dar a conhecer um todo mediante o agenciamento e composição de
fragmentos dispostos em um espaço, cada fragmento ocupando um lugar ( positio) no espaço, porém transcendendo ( ex-positio : "ir para fora") esse mesmo lugar singular que ocupa. Cada fragmento "sai" de seu lugar para compor-se com outro fragmento, ambos assim fazendo parte da imanência de um todo que não é apenas espaço, mas também tempo, acontecimento, vida , enfim, narrativa.
Quando lemos um poema, os versos permanecem exteriores a nós mesmos, lá no papel. Mas em uma exposição circulamos entre as coisas: com nosso corpo se afetando e se movendo, tornamo-nos partes desse poema escrito no espaço-tempo.
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