Linhas retas não vencem um labirinto. Somente o fio que sai
de um novelo pode tomar a formar de um labirinto, mas sem se perder nele.
De um
labirinto não há mapas. O labirinto não é como uma cela que prende entre
paredes, o labirinto encerra deixando ao preso a ilusão da escolha. Essa é a loucura do
labirinto: a ilusão de que somos senhores de nossas conscientes escolhas. Mas o
labirinto zomba da consciência, ri do raciocínio. Ele nos imobiliza enquanto
nos movemos dentro dele. O labirinto é o passo reduzido às pernas, sem caminho
ou horizonte.
Há labirintos na
mente, na linguagem , nas cidades que engolem as gentes. Entra-se no labirinto simplesmente nascendo, envolvido no espaço e tempo, embora o pior labirinto seja a
familiar casa em cujo habitar se perdeu o sentido...
Somente um fio nos pode ajudar a no labirinto entrar e dele
sair. Um fio flexível que decore o labirinto, inventando um caminho onde
caminho não há. O fio vence o labirinto forjando uma memória sobre a qual se retornará, dessa
vez como linha de fuga. Se o labirinto é loucura e risco, loucura e risco o fio
também se torna, mas para deles nos tirar. Quando se sai do labirinto, puxa-se
o fio, e se deixa o labirinto lá, como a impensável experiência que somente o
pensamento pode pensar, para assim se achar, inventando sua possibilidade da
impossibilidade mais extrema.
O fio nasce do ventre da aranha, a artesã de teias. Um labirinto
é uma teia. É Ariadne quem tece o fio que extrai de suas entranhas. Ariadne é a
arte que tece o fio da narrativa. Filosofia, poesia, literatura...são fios de
narrativa, não são informação de coisa objetiva.
Narrar é criar sentido que nos
faça achar a saída, sem que a preceda uma entrada. A alma é tecelã do sentido que a faz achar a si mesma,
saindo de si mesma, do labirinto que ela também é. A alma é, para si mesma, sua
loucura ou sua saúde, fio de forca ou fio de salvação. Pois a aranha fia o fio da fuga,
que é o mesmo fio que pode ser o da teia, um labirinto não apenas para suas
presas.O fio vira teia ao se tornar sistema, teoria : malha para reter verdade pronta. Quando
ele é apenas fio, porém, é poesia, é invenção : é caminho que deixa para trás a cotidiana prisão.
Escher, Labirinto |
Nenhum comentário:
Postar um comentário