Poesia
é como a cigarra
que estoura o
crepúsculo que a contém.
Manoel de Barros
Certa vez, as Musas vieram passear perto das formigas . Em grego, “Musa”
significa “conhecimento”,um conhecimento que não vem de livros, mas da própria vida . “Música” e “museu” derivam de Musa. Tirésias, considerado o maior sábio grego ( mais do que Sócrates...)
, tornou-se sábio quando viu as Musas
banhando-se em uma fonte. Elas estavam nuas. Quando o conhecimento se despe das palavras e teorias acadêmicas, é como poesia nua que ele se mostra.
Então, quando algumas formigas viram as Musas, esqueceram a servidão à Rainha, e passaram a cantar.
Nunca antes elas tinham feito tal insubmissão. Esqueceram de tudo. Apenas cantavam e
cantavam, talvez como cantou Cartola...
Elas morreram cantando, sem fome, sem
sede, livres: empoemadas...
Para que tal cantar renascesse, as Musas lhes fizeram uma metamorfose: da formiga rasteira que morreu, nasceu a cigarra alada; venceu-se a servidão passiva à Rainha, desabrindo o poeta “sem Rei nem regências”, diria Manoel .
Para que tal cantar renascesse, as Musas lhes fizeram uma metamorfose: da formiga rasteira que morreu, nasceu a cigarra alada; venceu-se a servidão passiva à Rainha, desabrindo o poeta “sem Rei nem regências”, diria Manoel .
“Rainha” e “Rei” derivam
da mesma palavra da qual se originou “real”, como aquilo que se opõe à invenção
e ao sonho. Assim, há aqueles que só conhecem a realidade dada, “objetiva”, são os
formigas-pragmáticos ; mas há os que conhecem , e fazem, a invenção, “pois inventar aumenta o
mundo” , canta a cigarra-manoel.
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