quinta-feira, 21 de setembro de 2017

o museu poeta

Na mitologia, Museu foi um personagem filho de Orfeu. Tal como seu pai, Museu também era um poeta. Mas ele fazia poema com coisas, com fragmentos, e não apenas com palavras. Cada ser que existe, percebeu Museu, vai produzindo e guardando coisas, que são testemunhos de uma vida, partes de um todo. Quando uma pessoa desaparece ou morre, ficam apenas os fragmentos. Estes podem se dispersar e se perder, morrendo uma morte por esquecimento ou descuidado. Assim, Museu cuida desses fragmentos, novamente os compõe , desejando que estes expressem , de alguma forma, o ser daqueles que os produziram  e guardaram. 
Foi com Museu que nasceu a ideia de exposição. Assim como um poema reúne palavras com a intenção de comunicar um sentido, uma exposição é produzida para dar a conhecer um todo mediante o agenciamento e composição de fragmentos dispostos em um espaço, cada fragmento ocupando um lugar  ( positio) no espaço, porém transcendendo ( ex-positio : "ir para fora") esse mesmo lugar singular que ocupa. Cada fragmento "sai" de seu lugar para compor-se com outro fragmento, ambos assim fazendo parte da imanência de um todo que não é apenas espaço, mas também tempo, acontecimento, vida , enfim, narrativa.
Quando lemos um poema, os versos permanecem exteriores a nós mesmos, lá no papel. Mas em uma exposição circulamos entre as coisas: com  nosso corpo se afetando e se movendo,  tornamo-nos partes desse poema escrito no espaço-tempo.


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