Quando a nave
está pousada na terra, há um chão embaixo. Quando a nave se alça e sai dos
limites da atmosfera, há céu não apenas acima e dos lados, como também embaixo.
Torna-se inútil ter pés e pernas, pois já não há chão que possa servir de
apoio e lastro. Tudo se torna acima, mesmo o que está abaixo.
É lá no fim do
abismo que está o inferno, dizem os que creem no diabo. Estes vivem olhando
para baixo. Mas abismo é um fundo abaixo dos pés, região escura na qual a chama
queima os pecados. A fogueira do inferno é só para queimar, não é para iluminar
a noite de quem quer explorar desconhecidos espaços.
Porém, céu não é abismo,
céu não é fundura, céu é altura que se eleva sem que se lhe oponha uma baixeza
escura. Se tudo é céu , tudo é só altura, a qual somente se alcança na altivez
de um pensamento que deseja o infinito. Nesse
céu em todas as direções a única chama
que há é a dos astros, progenitores estelares da chama viva que é o calor de
nosso corpo.
A mente é como
essa nave. No entanto, muitos a vivem como se fosse um veículo apenas
terrestre, um carro. Assim, perece o
combustível antes mesmo que ele seja usado para o pensamento se
desterritorializar, alcançando seu meio infinito, sua imanência , seu horizontado espaço.
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