Li recentemente entrevista com o grande Paulinho da Viola, que hoje faz 78
anos! Na entrevista, Paulinho responde
a um jornalista acerca de seu
modo de ser. Paulinho é reconhecidamente alguém modesto e simples, reservado
mesmo, por vezes tímido no trato. Porém,
ele nada tem de tímido quando se trata de expressar, extroverter, a
poesia através da música. Por outro lado, muitos cantores extrovertidos, que
falam pelo cotovelo e atropelam seus entrevistadores, e que vivem a dar opinião
medíocre acerca de tudo, tais cantores extrovertidos são impressionantemente
introvertidos, tímidos, quando se trata de chegar perto, e conquistar, a poesia
e a música! Se levarmos em conta essa
autêntica extroversão, Paulinho é extrovertido: “voltado para” a alma plural que lhe vai dentro, dele e de nós.
Essa alma plural é o que Paulinho chama de “alma suburbana”, enquanto ethos
social originário e heterogêneo .Nesse
sentido, a raiz “sub” não é exatamente o que é inferior, “sub” é o que está por
baixo dando sustentação, como o alicerce da casa, como o solo sobre o qual corre
o rio, como o caráter que sustenta as ações visíveis de um homem. Mais longe a
esse respeito foi Espinosa, que também emprega a raiz “sub” no termo
“substância”, porém com outro sentido: nele o sub é onde se encontra a Potência. Em Espinosa, a Potência também é
suburbana (esse "sub" da potência expressa o mesmo
que o "pré" das Pré-coisas manoelinas).
Então, para o poeta Paulinho sub-urbano
não é algo inferior à urbanidade da zona
sul. Sub-urbano é o que dá sustentação existencial às nossas existências
urbanas. A base desse sub não são exatamente valores familiares ou religiosos;
a essência desse “sub” são os valores
ético-políticos, valores esses que também se tornam música em Paulinho.
Mais do que no espaço privado das
casas, onde reina o “meu”, é no espaço suburbano de vizinhança que se aprende o afeto pelo comum como prática das
comunhões. “Os comparamentos matam a comunhão”, ensina o suburbano Manoel de
Barros. Não por acaso , o termo “demos”, de onde vem “democracia”, não designa
o centro da pólis, e sim o seu subúrbio , significando também o povo que nele
mora.
Viva Paulinho da Viola!
“Aprendo com o povo sintaxes tortas.”(Manoel
de Barros)
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