Originalmente, a ideia de
cultura nasceu da prática de cultivo de três plantas cujo valor é também
simbólico: a vinha, a oliveira e o trigo.
A vinha é a árvore da qual vem o
vinho. Essa bebida está associada à festa, à alegria. Pois festa e alegria
também são partes daquilo que entendemos ser o homem. Da oliveira vem o azeite de oliva. O azeite é
tempero, ele permite temperar o alimento. De tempero vem “temperança”, uma das
virtudes fundamentais da ética. O azeite
também é parte dos ritos sagrados de diferentes sociedades , pois ele é um elemento que unge e protege . E do trigo vem
o pão. O pão é o que mata a fome. Mas há
também o aspecto simbólico do “pão”. Em latim, por exemplo, “pão” é “panis” ,
raiz do termo “companis”, do qual nasce “companheiro”: “aquele com quem
dividimos o pão.” Há o pão que mata a fome do corpo, e há também o pão que
alimenta a ação ( o pão da liberdade) , o conhecimento (o pão das ideias) e a
sensibilidade( o pão das artes).
A vinha e a oliveira conseguem crescer no meio selvagem, isto é, sem
precisarem ser cultivadas. Porém o trigo
é tão frágil, requer tantos cuidados, que ele somente cresce sendo cultivado
pelas mãos humanas . “Cuidado” vem de “caute”: prática de proteger o que é
frágil. Não porque seja fraco, e sim em razão de ser uma potencialidade que,
para aflorar, requer que cuidemos. É por isso que o trigo é a semente que
também simboliza a condição humana enquanto potencialidade. Ao contrário, quando
se faz culto da selvageria ( nos vários sentidos que essa palavra tem) ,
da semente nascem apenas inumanidades que põem em perigo a condição humana e o
terreno aberto e plural da cultura.
Do trigo não vem apenas o
pão, dele também vêm o bolo, o macarrão, a farinha, as diversas massas...enfim,
múltiplas realidades que podem nascer da potencialidade que vive nele. Semelhante ao trigo também é o
homem: somente a cultura pode nele fazer aflorar o poeta, o cientista, o
médico, o jardineiro, o professor, o cidadão, enfim, ele mesmo. Pois é a
cultura o meio físico e simbólico para o
homem criar e dar um sentido a ele mesmo.
(o livro de Jung é apenas uma sugestão de leitura)
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