Um autêntico “acervo” nada tem a ver
com um depósito de coisas inertes, mortas. Tampouco podem as réguas medirem o
tamanho e amplitude das ideias que, virtualmente , vivem num acervo e aguardam para serem descobertas,
experimentadas, vividas. Pode-se dizer de um autêntico acervo o que Manoel de
Barros disse sobre o seu Pantanal poético-filosófico: “Não se pode passar régua
no Pantanal. Régua é existidura de limites, e o Pantanal não tem limites.” E
complementa o poeta: “O tamanho de uma coisa não se mede com régua, mas pela
capacidade que tem a coisa de nos encantar.”
“Acervo” vem de “cérvix”:
"cervical". A coluna cervical
não é apenas o que sustenta a cabeça, ela também é o que nos põe de pé e
serve de elo entre o cérebro e nossos pés e pernas: é atravessando a
coluna que as ideias e desejos nascidos
no pensamento alcançam nossas mãos e pernas,
tornando-se ação sobre o mundo. Não por acaso, num dos seus poemas Fernando
Pessoa percebeu o fato: a coluna cervical
tem a forma de um ponto de interrogação [ como este : ? ]. Pois é isto
que põe o homem de pé: sua capacidade de pôr questões. Assim como a coluna cervical, um acervo existe para
manter de pé as ideias que nos fazem
seres pensantes. O poder obscurantista sempre nos quer tristes ,
impotentes, de joelhos; resistamos e fiquemos de pé, pois é para isso que
servem a educação, a arte, a poesia, a filosofia , a cultura e o Acervo Cláudio
Ulpiano.
( em homenagem ao inesquecível professor
Cláudio Ulpiano , nascido num dia como hoje, 14 de novembro
[ de 1932 ] , e renascido em cada
texto dele que lemos, em cada belíssima aula dele que revivemos)
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