sábado, 14 de novembro de 2020

acervo de ideias

 

Um autêntico “acervo” nada tem a ver com um depósito de coisas inertes, mortas. Tampouco podem as réguas medirem o tamanho e amplitude das ideias que, virtualmente , vivem  num acervo e aguardam para serem descobertas, experimentadas, vividas. Pode-se dizer de um autêntico acervo o que Manoel de Barros disse sobre o seu Pantanal poético-filosófico: “Não se pode passar régua no Pantanal. Régua é existidura de limites, e o Pantanal não tem limites.”   E complementa o poeta: “O tamanho de uma coisa não se mede com régua, mas pela capacidade que tem a coisa de nos encantar.”

“Acervo” vem de “cérvix”: "cervical". A coluna cervical  não é apenas o que sustenta a cabeça, ela também é o que nos põe de pé e serve de elo entre o cérebro e nossos pés e pernas: é atravessando a coluna   que as ideias e desejos nascidos no pensamento alcançam nossas mãos e pernas,  tornando-se ação sobre o mundo. Não por acaso, num dos seus poemas Fernando Pessoa percebeu o fato: a coluna cervical  tem a forma de um ponto de interrogação [ como este : ? ]. Pois é isto que põe o homem de pé: sua capacidade de pôr questões. Assim  como a coluna cervical, um acervo existe para manter de pé  as ideias que nos fazem seres pensantes. O poder obscurantista sempre nos quer tristes , impotentes, de joelhos; resistamos e fiquemos de pé, pois é para isso que servem a educação, a arte, a poesia, a filosofia , a cultura e o Acervo Cláudio Ulpiano.

( em homenagem ao inesquecível professor Cláudio Ulpiano , nascido num dia como hoje,  14 de novembro  [ de 1932 ] ,  e renascido em cada texto dele que lemos, em cada belíssima aula dele que revivemos)




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