Nietzsche dizia: “É preciso proteger
os fortes dos fracos.” Em Nietzsche, “forte”
é a “potência”, a criatividade, a afirmação da vida. “Fraco” é o ressentido, o
autoritário, o negador da vida. Essa frase de Nietzsche se aplica a várias coisas, inclusive ao
futebol . Na bola, o forte é mais do que
mero atleta : o forte-potente também é criativo, artístico, pensador. O criativo
respeita as regras, mas não se limita a elas,
pois ele exerce uma potência
singular : sua arte de jogar/pensar. Por isso , ele
também sabe inventar o improvável que não
está previsto na “regra acostumada”, sem
fazer de sua invenção uma burla ou
infração. Quando Leônidas da Silva
inventou a “bicicleta”, o juiz parou sem saber o que fazer, pois Leônidas
“inventou um comportamento” apoiado apenas naquilo que “pode um corpo”, como já
dizia Espinosa. Quem “inventa comportamento”
é poeta, ensina Manoel de Barros. Em
geral, o craque-criativo-pensador sofre violências e agressões. Do ponto de
vista meramente físico, o jogador que entra violentamente no craque, imaginando
que assim o vence, só aparentemente o violento-brigão é forte. Do ponto de
vista do futebol, o mero violento é
fraco. Forte é o pensador-criador, e é por isso que ele precisa ser protegido.
Quando se aplica o cartão amarelo ou vermelho para proteger o forte-criativo dos fracos-violentos, é porque se quer proteger
igualmente o futebol enquanto prática mais do que meramente de força física.
Talvez tal cuidado pudesse nos inspirar na
política: proteger os fortes (os que têm ideias fortalecedoras das
regras democráticas) dos fracos (os que têm apenas a força do dinheiro, da
mídia ou da mera força bruta mesmo que idolatra destruição e armas...).
Baudelaire dizia: “seja sempre poeta,
mesmo em prosa”. Sem precisarem ler Baudelaire, Leônidas da Silva, Garrincha e
Maradona aprenderam a lição: “sendo um poeta, mesmo com a bola”.
( foto: Maradona e Piazzolla)
( música do vídeo: "Libertango", de Piazzolla)
(música do vídeo: "Diferente" , do grupo neotango Gotan Project)
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