Em determinado momento da história do
Japão, os samurais se desterritorializaram, pois somente assim poderiam
continuar a ser samurais, homens livres, uma vez que os territórios passaram ao
poder dos senhores feudais. Antes, cada samurai possuía um mestre, cujo poder vinha
de sua destreza e maestria, além da sabedoria. Era subordinando-se a um mestre
que um samurai aprendia a como ser um samurai, “mestre de si”. Essa
subordinação nada tinha a ver com servilismo, pois a condição de servo é
incompatível com a natureza do samurai.
Só se aprende a ser samurai com outro
samurai que já o seja mais. Impossível se tornar samurai sem ter tido um
mestre. Pois ser um samurai é sempre um aprendizado de como sê-lo. Saber usar a
espada é somente parte do aprendizado. Primeiro, é preciso saber usar a mente.
O maior dos mestres samurais também teve mestre. Além disso, todo samurai sabe
que não houve um primeiro samurai que aprendeu a ser samurai do nada. Nunca
houve um primeiro samurai que tenha sido o “mestre dos mestres”. O que sempre
existiu, para um samurai, é a
necessidade de aprender a ser um samurai. O melhor samurai não é o que sabe
mais, porém o que melhor aprendeu. O samurai é aquele que sabe achar um mestre:
mesmo com a derrota ele aprende.
No Japão, os senhores feudais
ganharam poder com a introdução da arma de fogo . Já os samurais consideravam
que a arma de fogo não era digna dos homens
corajosos e nobres: apenas os medrosos se enfrentam de longe, à
distância, e , covardemente, não dispensam oportunidades para atirar pelas
costas. Além disso, para o samurai a boa espada é aquela que menos
precisa ser desembainhada, pois antes dela deve prevalecer a força da palavra e do caráter. Mas caso ela
precise ser desembainhada, nunca o será para servir à covardia, ao mero poder
pelo poder e à vilania. E muito menos
será usada para atingir pelas costas.
O filme “Depois da chuva” narra a
história de um “ronin”, um samurai-andarilho que não se vende aos senhores
feudais. Os senhores feudais tentam comprar
os samurais oferecendo-lhes
chefia de exércitos, querendo fazer deles generais fardados. Contudo, um
general somente existe em razão de uma hierarquia de poderes, estando ele
acima, e os comandados abaixo. Entre os samurais, porém, não existe acima, a
não ser como lugar onde vive a honra, e não existe abaixo, senão como baixeza
servil dos que se ajoelham, baixam a cabeça, dissimulam e se vendem.
Recusando-se a usar sua sabedoria e
potência a serviço dos que desconhecem o que é nobreza e honra ,
os samurais se tornam nômades-andarilhos, seguem sem destino pelos caminhos,
fiéis ao que são e aprenderam , não cedendo aos que põem em tudo um preço. Se
sabem os últimos homens livres, tendo sido também os primeiros.
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