terça-feira, 25 de agosto de 2020

o samurai espinosista

 

Em determinado momento da história do Japão, os samurais se desterritorializaram, pois somente assim poderiam continuar a ser samurais, homens livres, uma vez que os territórios passaram ao poder dos senhores feudais. Antes, cada samurai possuía um mestre, cujo poder vinha de sua destreza e maestria, além da sabedoria. Era subordinando-se a um mestre que um samurai aprendia a como ser um samurai, “mestre de si”. Essa subordinação nada tinha a ver com servilismo, pois a condição de servo é incompatível com a natureza do samurai.

Só se aprende a ser samurai com outro samurai que já o seja mais. Impossível se tornar samurai sem ter tido um mestre. Pois ser um samurai é sempre um aprendizado de como sê-lo. Saber usar a espada é somente parte do aprendizado. Primeiro, é preciso saber usar a mente. O maior dos mestres samurais também teve mestre. Além disso, todo samurai sabe que não houve um primeiro samurai que aprendeu a ser samurai do nada. Nunca houve um primeiro samurai que tenha sido o “mestre dos mestres”. O que sempre existiu, para um samurai,  é a necessidade de aprender a ser um samurai. O melhor samurai não é o que sabe mais, porém o que melhor aprendeu. O samurai é aquele que sabe achar um mestre: mesmo com a derrota ele aprende.

No Japão, os senhores feudais ganharam poder com a introdução da arma de fogo . Já os samurais consideravam que a arma de fogo não era digna dos homens  corajosos e nobres: apenas os medrosos se enfrentam de longe, à distância, e , covardemente, não dispensam oportunidades para atirar  pelas  costas. Além disso, para o samurai a boa espada é aquela que menos precisa ser desembainhada, pois antes dela deve prevalecer  a força da palavra e do caráter. Mas caso ela precise ser desembainhada, nunca o será para servir à covardia, ao mero poder pelo poder  e à vilania. E muito menos será usada para atingir pelas costas.

O filme “Depois da chuva” narra a história de um “ronin”, um samurai-andarilho que não se vende aos senhores feudais. Os senhores feudais tentam comprar  os samurais  oferecendo-lhes chefia de exércitos, querendo fazer deles generais fardados. Contudo, um general somente existe em razão de uma hierarquia de poderes, estando ele acima, e os comandados abaixo. Entre os samurais, porém, não existe acima, a não ser como lugar onde vive a honra, e não existe abaixo, senão como baixeza servil dos que se ajoelham, baixam a cabeça, dissimulam e se vendem.

Recusando-se a usar sua sabedoria e potência  a serviço  dos que desconhecem o que é nobreza e honra , os samurais se tornam nômades-andarilhos, seguem sem destino pelos caminhos, fiéis ao que são e aprenderam , não cedendo aos que põem em tudo um preço. Se sabem os últimos homens livres, tendo sido também os primeiros.


-cartaz original do filme:


 







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