“Museu” provém de “Musa”.
Originalmente, “musa” significa “conhecimento que vem das artes”. Tanto os
poetas quanto os filósofos pré-socráticos evocavam as Musas para auxiliá-los na
seguinte tarefa: vencer o esquecimento daquilo que não pode ser esquecido.
Assim, o conhecimento das Musas não é só intelecto ou razão, ele é , também,
recordação: “re-cordis”, “trazer de novo ao coração”, como lugar do Afeto. No
mito, as Musas são filhas de Zeus , divindade ligada à justiça e à ética, com
Mnemósyne, Deusa da Memória. Zeus uniu-se a Mnemósyne após uma guerra vencida
por ele contra as forças da barbárie vinculadas à ignorância em seus variados
aspectos. Dessa união entre a ética e a memória nasceram as Musas, divindades
da cultura e do patrimônio. Assim, todo patrimônio cultural nasce do matrimônio
gerador de uma ética da memória, de uma memória da ética. A cultura não existe
apenas para relembrar algo que se deu no passado e passou. A cultura existe
para fazer lembrar e dar a conhecer que se é possível vencer a barbárie da
violência física e simbólica. Foi este acontecimento a origem da civilização ,
da educação e da cultura: a luta contra a ignorância, que apenas o intelecto
sozinho não consegue vencer. Pois não é uma ignorância em relação a não saber
matemática ou “cartilhas”, mas ignorância acerca do que é a justiça, a ética, a
arte, a natureza, enfim, a vida. Ontem e hoje, as forças da barbárie sempre
ameaçam de destruição a cultura, porém nunca conseguirão destruir sua ideia
geradora, enquanto mantivermos viva em nós ,coletivamente, a recordação daquilo
que nos faz humanos, e não bestas acerebradas.
Segundo o poeta Manoel de Barros,
todo ato criativo é uma “imitagem". A imitagem não é um tornar-se mera
cópia de um Modelo ou Padrão. Ao contrário, a imitagem é a produção de uma
diferença , como nos ensina a pequena menina em sua fabricação brincativa de um
estilo . Em toda imitagem há uma aprendizagem não escolar de uma diferença que
se afirma compondo-se, em liberdade. Em sua imitagem, é a menina, e não a
escultura, a obra de maior arte. Que a pequenina Musa, em sua inocência
brincativa, nos ajude a não esquecer o que precisa ser sempre lembrado: que
vida é invenção , justiça e arte, e que isso nos dê forças ante a barbárie.
“Às vezes começa-se a brincar de
pensar,
e eis que inesperadamente o brinquedo
é que começa a brincar conosco.”( Clarice Lispector)
"Minha poesia não tem função
explicativa, só brincativa."(Manoel de Barros)
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