Na minha infância havia ainda a
ditadura militar. Quem não passou por isso não faz ideia da violência,
violência física e simbólica, da ditadura . Somente quem nela foi carrasco,
cúmplice ou capitão do mato tem saudade daquela triste época. Na televisão ,
nos livros de Moral e Cívica que eles nos impunham no lugar de filosofia e
sociologia, na capa dos cadernos escolares , em quase todo os lugares , enfim,
o regime ditatorial martelava dia e noite a seguinte palavra de ordem : “O
Brasil é o país do futuro.” Isso era repetido para esconder as mazelas do
presente, e quem discordasse da tal palavra de ordem os militares ameaçavam com
o cínico: “Brasil, ame-o ou deixe-o.” Quando veio a redemocratização, ficou
claro que aquele “futuro” propalado pela ditadura nada mais era do que a
vontade dos militares de perpetuarem aquele presente sombrio no qual eles
aterrorizavam quem deles discordava. Com a democracia, veio então a percepção
de que o Brasil somente teria futuro se resolvesse as desigualdades que, desde
a escravidão, nos prendiam num passado de injustiça e exploração aviltantes .
Renasceu e ganhou força então o pensamento popular-progressista, um pensamento
plural, sem dono ou proprietário, unindo trabalhadores das fábricas, intelectuais
e estudantes das universidades, artistas e pensadores libertários , antigos
combatentes políticos e novas lideranças , e até mesmo setores da igreja que
defendiam os pobres e explorados inspirados em São Francisco. Essa ideia
“progressista” que nos unia nada tinha a ver, porém, com o “progresso” sem
justiça mancomunado com a “ordem” autoritária da tal “Ordem e Progresso” que
hoje virou arma e bandeira dos pseudonacionalistas fardados de verde e amarelo.
A ultradireita teofascista de agora ,
embora queira ditadura, já não emprega mais a palavra de ordem “o Brasil é o
pais do futuro” . Agora eles querem que o Brasil seja o país do passado, um
passado anterior ao Iluminismo. E ao invés do “ame-o ou deixe-o” , agora a
insana palavra de ordem parece ser: “ame nosso messias-capitão , diga amém para
ele, ou então receba nosso ódio e morra.” Isso é trágico, porém risível... A
força deles se alimenta de quererem nos provocar medo. Mas no fundo são
covardes, a começar pelo seu líder-louco .Eles só podem ter mesmo o passado e
seus fantasmas, o futuro nunca será deles.
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