A palavra “fortaleza” nos faz
imaginar algo cercado por muros espessos e com arame farpado. Em seu livro chamado
“Ética”, porém, Espinosa realça uma virtude chamada exatamente fortaleza
(“fortitudo”, em latim). Mas a virtude-fortaleza em Espinosa não tem muros ou
cercas, embora seja dela que pode advir resistência com ação.
"Fortaleza" procede de
"força". Alguns tradutores traduzem "fortitudo" como
"força de ânimo" ou “força da vida” ("ânimo" vem de
"ânima" = "unidade vital da alma e do corpo"). Tal força
não se expressa apenas em termos de músculo. O contrário do ânimo não é a morte
ou a doença, mas o des-ânimo.O oposto da vida não é a morte, e sim a vida
enfraquecida em seu ânimo. A fortaleza-virtude tem força, mas não é violenta;
ela tem potência, porém não é soberba; ela é firme, sem ser rígida.
Na sabedoria oriental considera-se a
flor de lótus o símbolo da fortaleza: ela não tem muros a cercando , porém a
lama não a contamina ou turva. Apesar da sujeira em torno, a flor de lótus
ensina a como perseverar sendo ela mesma. Ela ensina com sua existência, sem
precisar de sermões ou ordens . No Japão antigo, o candidato a guerreiro
deveria passar por uma prova que não era meramente teórica ou acadêmica: ele
deveria aprender com a flor de lótus a como não se contaminar com a sujeira,
mesmo cercado de lama. A flor de lótus simboliza a mente que pensa unida ao
corpo que age , por mais hostis que sejam as circunstâncias .
“Sei de todas as espurcícias do
mundo,
mas do que gosto mesmo é de circo.”
(Manoel de Barros)
(cena do filme “A saga do judô”, de
Kurosawa: fortalecendo o ânimo, o aprendiz de guerreiro aprende a lição da flor
de lótus. Pois é com o ânimo, potência da vida, que a mente se autoafirma e
luta , antes mesmo de lutar com os braços e pernas . O judô é apenas um pano de
fundo do qual Kurosawa se serve para abordar questões ligadas à ética, à
política, ao poder, à justiça, ao ensino e ao aprendizado )
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