Espinosa dizia que quando a morte
leva um recém-nascido, a morte leva a maior parte do que o recém-nascido foi.
Mas a morte não tem poder para levar
tudo, a morte não é absoluta: "ab-soluto" , "o que não é
soluto", "o que não se dissolve." A morte é soluta, e não
absoluta. Absoluta é sempre a vida, apesar das forças da morte , mortes físicas
ou simbólicas, que tentam dissolvê-la. Assim, mesmo no caso de um
recém-nascido, a morte não leva tudo: fica a lembrança . O filho nasce primeiro
no desejo dos pais de concebê-lo. Mesmo que o filho não nasça, o desejo comum que
uniu dois desejos, tornando-os um, esse desejo foi vivo e não morre, pois é dele que pode
nascer um outro futuro filho. Assim, diz Espinosa, quando a morte vier levar
aquele cujas palavras e ações afirmaram a vida absoluta com a máxima potência que
pôde, deste a morte levará apenas a menor parte, pois a maior
parte daquele que assim viveu continuará a viver na vida daqueles que ele
afetou, ensinou, amou e fortaleceu.
Às memórias de Luiz Alfredo
Garcia-Roza e Cláudio Ulpiano.
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