A
arte diz respeito à sensibilidade.Em
grego, a palavra “aesthesis” significa “sensação”. Dessa palavra nasce "estética", estudo da arte. Mas existe ainda o termo "poética". Essa palavra se origina de "poiésis" = "produção". Assim, a estética concerne à recepção da obra de arte, ao encontro com ela, ao passo que a poética pensa a sua produção, ou seja, o encontro do artista com a própria criação. Enquanto a estética sente a obra pronta, a poética sente, pensa e cria a obra a ser feita. Quando o poeta Manoel de Barros diz que ler poesia não é apenas ler palavras e sim empoemar-se, o poeta coloca a poesia para além da estética , fazendo da poesia o meio de uma "empoética". Empoemar-se é também sentir-se, pensar-se, fazer-se, curar-se, criar-se enquanto obra nunca antes feita. Enfim, empoemar-se é mais do que ler poesia, empoemar-se também é política, educação, saúde, clínica, subversão, rebeldia."Poesia pode ser que seja fazer outro mundo", diz o poeta. No verso, a ênfase está não tanto no mundo quanto no "fazer": fazer outros mundos subjetivos e objetivos, fazer outros mundos líricos e políticos, fazer outros mundo singulares e coletivos. Pode ser que seja...
A arte sempre esteve então relacionada à nossa capacidade de sentir,o que envolve diretamente o corpo. Como o corpo e a sensibilidade sempre tiveram um papel secundário nas culturas antigas, a arte sempre esteve também subordinada aos frutos do intelecto, estes bem mais valorizados.
A arte sempre esteve então relacionada à nossa capacidade de sentir,o que envolve diretamente o corpo. Como o corpo e a sensibilidade sempre tiveram um papel secundário nas culturas antigas, a arte sempre esteve também subordinada aos frutos do intelecto, estes bem mais valorizados.
Mas
a arte também é uma forma de conhecimento, uma forma de conhecimento diferente
daquele meramente teórico. A arte é uma forma de conhecimento que tem como suporte também o
corpo. Por esse motivo, a arte sempre esteve subordinada a outras formas de
conhecimento que o homem produziu, conhecimentos estes mais intelectuais. Platão,
por exemplo, dizia que a beleza que vemos com os olhos do corpo é uma imagem ou
cópia da Beleza que apenas a alma pode ver com os olhos da razão. Essa beleza
Ideal e Imaterial acabou virando o modelo da arte clássica, que prima pelo
realce da forma (no mito, a forma é Apolo...).
Durante
a Idade Média, a arte passou a ser subordinada às ideias da teologia. A partir
do romantismo, surge a figura do artista como
individuo excepcional, e muitas vezes o artista era mais importante do
que a obra.Com a sociedade industrial surge a possibilidade de reprodução das
obras. Segundo Walter Benjamin, um importante filósofo da comunicação, com a
“reprodutibilidade técnica” a arte teria perdido sua “aura” de objeto singular
quase religioso.
A arte contemporânea se caracteriza pela sua
autonomia em relação a todos os antigos valores e conhecimentos que a
subordinavam. A arte se libertou de sua subordinação à moral, à religião e à
ciência; ela se libertou até mesmo do
público. O artista passou a criar quase que para os outros artistas, que
supostamente deteriam os “códigos” para interpretar o que um artista quis dizer
com sua obra.
Internamente,
a própria arte sofre uma mutação em relação aos seus suportes: ela abandona a
tela, na qual o quadro era representado como uma “janela para a realidade”. A
arte não quer ser mais janela para o mundo, ela quer ser parte do mundo. Daí a
arte ir para o espaço: ela o incorpora como elemento no qual ela se instala (
“instalação” tem esse sentido: a arte abandona os limites bidimensionais da
pintura e vai para o espaço tridimensional, às vezes empregando objetos do
próprio mundo). Com isso, a arte rompe
com os antigos modelos de interpretação calcados em uma narrativa linear, onde
se representava um fato ou divindade. A arte não é mais apenas para ser vista
ou contemplada: ela quer ser rodeada, pensada, interrogada, uma vez que ela
mesmo nos interroga. Tal como a Esfinge, ela nos desafia: “Decifra-me ou...”
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