Tenho
visto artigos e postagens recomendando a filosofia dos estoicos como leitura
auxiliadora para atravessar esses tempos difíceis. Porém, a maioria desses
artigos acentua que o estoicismo seria uma “filosofia da aceitação do destino”,
uma espécie de busca por um quietismo interno e subjetivo que ponha o indivíduo
a salvo da loucura do mundo. Mas essas visões do estoicismo não traduzem o que
foi de fato a essência dessa doutrina. “Estoico” vem de “stöa”, que significa “porta” ou “portal”. Ao contrário de Platão e Aristóteles, cujas escolas
ficavam perto do mercado da pólis, os estoicos escolhiam abrir suas escolas à
porta das cidades ( àquela época, a maioria das cidades eram muradas e tinham
uma porta ou portal). Assim, a essência do estoicismo está associada à
necessidade de acharmos portas, isto é, espaços de travessia. Portas para o
outro, portas para o cosmos, portas que nos agenciem e conectem, enfim, portas
que nos horizontem ( “horizontar-se” é um verbo-poema criado por Manoel de
Barros). Quando as portas estiverem fechadas, reunir forças para reabri-las;
quando ainda não existirem, com coragem fabricá-las – mesmo que se precise
furar muros e rochas. A porta também simboliza um colocar-se na membrana: nem
no centro do poder, nem no espaço de fora ( onde imaginam estar aqueles que se
dizem “neutros” e não querem se comprometer com nada).
-um dos melhores livros sobre os estoicos:
- Na Grécia antiga e em Roma ( antes desta virar um império), as escolas de filosofia giravam em torno de um "escolarca", isto é, alguém que ensinava não apenas por intermédio das palavras , pois o escolarca ensinava também pelas ações , visando assim construir um "modo de vida". Na idade média, desaparece o filósofo e surge a "escolástica", ou seja, lições a decorar e reproduzir a partir de um texto escrito considerado sagrado e fonte de dogmas. A partir da Modernidade, as academias filosóficas se refundaram a partir do modelo da escolástica, desaparecendo assim a filosofia viva dos escolarcas. De quando em quando, porém , surge um Sartre, um Deleuze, um Foucault, um Cláudio Ulpiano que, colocando-se na membrana ou margem das academias, revivem a potência didática , pedagógica e libertária de um escolarca.
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