Há um aspecto da “Caverna de Platão” que se encontra apenas implícito, mas que é de papel fundamental em sua doutrina. Conforme ensina Platão, o filósofo é aquele que sai da caverna, ou seja, o filósofo primeiro se liberta, vence a si mesmo, desfaz os grilhões que o prendem ao senso comum , e assim constrói , com suas palavras e ações, uma saída.
Os grilhões que prendem na caverna são as opiniões e as paixões reativas . Quando sai da caverna, o filósofo está indo para dentro da verdadeira realidade. E o traço mais característico
dessa verdadeira realidade é a presença da luz.
O filósofo se desterritorializa
em relação à caverna do senso comum e se reterritorializa, não só com a mente
mas também com o coração, na luz. O filósofo se reterritorializa na Ideia e no Afeto, que são as dimensões intelectiva e amorosa da luz. Inclusive, essa luz lhe faz crescer asas especiais nas costas : as Asas de Eros, pois não se sai da caverna sem aprender a voar com tais asas.
Essa realidade que a luz ilumina
é exterior à caverna, porém interior à luz mesma. Essa luz não é física,
tampouco ela é de natureza puramente
epistemológica. A luz que ilumina a realidade fora da caverna é a luz do Bem,
dizia Platão. Tudo o que a razão conhece tem forma e limite. Porém a luz não
tem forma: como uma fonte, ela brota de si mesma e se irradia, generosamente.
Essa luz não existe apenas para
iluminar a realidade exterior à caverna, pois sua função primeira é iluminar
por dentro a alma também. Essa luz ilumina igualmente a caverna, não a deixando apenas em treva. É
por isso que a caverna não é totalmente treva, ela é penumbra: misto entre a
treva da ignorância e a luz do conhecimento que tenta vencê-la. Não fosse por
esse rastro de luz que adentra à caverna, ninguém , nem mesmo o filósofo,
poderia se libertar da caverna onde reina a “opinião” ou doxa.
Para transpor os umbrais da
caverna, primeiro a luz ilumina o filósofo por dentro, como um raio X, e é assim que ele se
autoconhece e se esforça para vencer as sombras que estão dentro dele também.
Muitos chegam a esse umbral , porém nem todos têm coragem e virtude para
transpô-lo e ir para fora. Os que vão para fora da caverna igualmente vão para dentro de si mesmos, aprendendo a ver-se mais do que com os olhos limitados do ego , e assim se curam e encontram
remédio para as sombras internas .
Mas há aqueles que, no limite da
caverna, veem as sombras[1]
internas , porém retornam à caverna e passam a dissimular e esconder essas sombras . Eles viram que existe um mundo fora da
caverna, mas retiveram apenas o aspecto intelectual da luz, e não sua dimensão
ética. E é por isso que esses dominam apenas as palavras, e creem que a verdade
é só palavra. Esses que chegam ao umbral da caverna, porém retornam para dentro dela, se valem das palavras para tomarem
aparência de sábios. Esses que assim se comportam serão chamados , por Platão, de “sábios da
caverna” ou sofistas[2].
Os sofistas não estão agrilhoados
, eles são servos voluntários muito bem pagos, e estão presos à caverna como um todo : eles são os reis
farsantes[3]
deste mundo em penumbra.
( este livro é só uma sugestão de leitura)
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