Onde moro há muitas árvores bem
frondosas . Elas ficam próximas à janela do meu quarto. Em árvores assim os
passarinhos gostam de morar e construir
ninhos, pois há poucas brechas para os predadores entrarem. Assim deve ser também
nossa mente: com poucas brechas para os predadores da nossa paz e saúde entrarem. Em mentes frondosas as ideias amam fazer ninho...
Nem preciso de despertador: todo dia
bem cedinho desperto com o canto desses passarinhos. Faça sol ou
chuva, frio ou calor, os passarinhos acordam sempre da mesma maneira : eles não
ficam prostrados no galho ou ninho com a mente ainda presa no dia de ontem, eles já acordam cantando e prontos para irem
explorar o mundo , como se aquela fosse a primeira manhã de suas vidas.
À maneira deles, esses passarinhos
põem em prática o “amor fati” que ensinam os estoicos. O amor fati é uma ativa abertura
e aquiescência, na mente e no coração, diante
do
que acontece , sem juízos prévios ou expectativas ansiosas.
O amor fati é um querer viver que se
exerce vivendo no aqui e agora , já. Somente o amor fati ao que nos acontece nos
permite agir sobre o que vai nos acontecer , ao mesmo tempo nos libertando do
passado, quando o que nos aconteceu virou
uma prisão.
O amor fati é cura do ressentimento ( em relação ao que nos
aconteceu no passado) e antídoto ao medo
( em relação ao que pode nos acontecer no futuro). Pois ressentimento e medo,
como ensina Espinosa, são sentimentos
reativos que caracterizam os escravos, e
dos quais tiram proveito os tiranos de toda espécie...
Tal como nos passarinhos libertos, o amor fati
é ousadia de canto e abertura de asas.
“Poesia é voar fora da asa.”
(Manoel de Barros)
“Quero descrever o voo de um pássaro
escrevendo com a pena de uma asa.”
(Guimarães Rosa)
( O livro de Manoel é só uma sugestão)
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